1. A fronteira Brasil-França
Uma pessoa está no Brasil e quer ir a França. O que fazer? Bem, comprar um bilhete de avião é uma possibilidade.
Outra será ir de carro até ao estado de Amapá, lá bem no Norte, e procurar a ponte sobre o Rio Oiapoque, que tem o curioso nome de Ponte Transfronteiriça Brasil-França.
Será brincadeira? Há mesmo uma fronteira entre o Brasil e a França?
Se atravessarmos a ponte, encontramos uma placa bem nossa conhecida aqui na Europa…
Esta foto foi tirada por um guia brasileiro da zona.
Estamos a entrar na Guiana Francesa, que foi integrada na França nos anos 40. Os habitantes são cidadãos europeus e votam nas eleições francesas e europeias.
Aliás, a resposta à pergunta “Qual é o país que tem a maior fronteira com a França?” é mesmo o Brasil. A Espanha vem em segundo lugar.
2. Usar o euro na América do Sul
A França leva tão a sério a integração daquela região que as placas da estrada, da entrada no país aos nomes dos rios, têm a mesma forma e usam o mesmo tipo de letra que em qualquer estrada francesa na Europa.
Como é um território europeu muito próximo do Equador, é também ali que a Agência Espacial Europeia lança os seus foguetões, no Centro Espacial de Kourou.
A moeda da região é também, inevitavelmente, o euro. Aliás, se olharmos com atenção para as nossas notas, lá está aquele pedaço de França perdido na América do Sul.
Legalmente, aquele território faz tão parte da França como Bordéus, a Normandia — ou Paris. Esta peculiar situação tresanda a truque para fugir com o rabo à seringa da descolonização, mas juridicamente a Guiana Francesa é isso mesmo: francesa.

3. As línguas desta França
Se pensarmos nas línguas, adivinhamos que o francês — como acontece em todo o território da República Francesa — é a língua oficial.
Falam-se, no entanto, outras línguas: temos o crioulo da Guiana Francesa, uma das várias línguas crioulas daquela região do mundo, temos várias línguas ameríndias, que já por lá se falavam antes de chegarem os europeus e as suas fronteiras, e temos ainda o crioulo maroon, língua criada por antigos escravos que se revoltaram e criaram as suas próprias comunidades livres.
Como acontece em todo o mundo, as línguas mostram o que as fronteiras escondem.
(Crónica no Sapo 24.)