Continuando a discussão de ontem, no caso do galego, para lá dos que insistem em falar a língua porque é a sua desde que nasceram, há ainda uns poucos que insistem em aprender galego, mesmo quando cresceram em espanhol. Porquê?
Tem tudo a ver com o sentido de identidade. A identificação de cada língua com uma identidade nacional é muito forte, como sabemos. Assim, alguém que se identifique como galego irá, claro está, defender a língua galega e tentar aprendê-la. O mesmo acontece noutras comunidades de Espanha e não é assim tão diferente do que acontece a alguém nascido em Portugal, mas com família de língua diferente: obviamente, irá querer aprender português. É também a sua língua, mesmo que não seja a língua materna. No mínimo, será o mesmo que adoptar o apelido da família adoptiva. No máximo, será essencial para compreender a alma dum povo (este ponto já me parece muito, mas mesmo muito duvidoso: a ele voltarei).
Muitas pessoas que se dizem “anti-nacionalistas” põem as mãos na cabeça: então esta gente põe-se a aprender uma língua “local”, quando pode falar e investir numa língua mundial como é o espanhol?
O grande erro desta lógica (que é tão nacionalista como a outra, mas mais disfarçada) é pensar que uma língua prejudica a outra. Uma pessoa que tenha aprendido espanhol e queira aprender galego não está a atacar o espanhol nem a perder seja o que for: está a somar uma língua e a afirmar uma identidade.
(Algo que ficará para outra oportunidade será discutir até que ponto a língua reflecte as características nacionais, a tal “alma do povo” acima referida. Por outras palavras, será o galego uma língua especialmente adaptada ao povo galego? Ainda doutra maneira: é possível defender um povo e compreendê-lo, mas falar outra língua? É possível ser galego e não falar galego? Neste ponto, afasto-me dos nacionalistas, e um dia destes explico porquê.)
Interessante suas colocações. Me fez lembrar de uma reportagem, se eu não me engano, da BBC Brasil, em que mostrava uma pesquisa sobre pessoas que eram nascidas em um país, mas criadas em outro, de língua diferente. Descobriu-se que essas pessoas tinham uma incrível capacidade de aprender o idioma da terra natal.