Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

As séries das nossas vidas

O que é a arte e para que serve é discussão para durar aqui uns bons minutos. Horas, vá.

Mas para lá dessas discussões, a verdade é que a arte serve também para nos lembrar da nossa própria vida.

O que quero dizer com isto?

Ora, quando releio um livro qualquer, costumo lembrar-me do exacto sítio onde estava quando o li pela primeira vez.

Há músicas que me transportam para certas alturas da vida. E nem precisam de ser músicas de que gostamos muito. Quase sem querer, as canções da rádio vão inundando certas imagens e certas memórias — e até podem ser da Britney Spears, para mal dos nossos pecados. E mais ainda as canções que ouvimos no repeat dias sem fim.

Até as séries de televisão, que alguns hesitariam em chamar de arte, são formas de viver de novo o que já passou. Lembro-me de ver o Seinfeld no meu antigo quarto da casa dos meus pais, lembro-me de ver a Ally McBeal quando entrei para a faculdade, lembro-me de ver o CSI quando comecei a namorar com a minha mulher e a Anatomia de Grey por alturas do casamento — e daqui a muitos anos vou lembrar-me do How I Met Your Mother e da Big Bang Theory por alturas do nascimento do meu primeiro filho. Lembro-me ainda de ver os primeiros episódios do House of Cards quando fui conhecer a minha sobrinha a Inglaterra. E isto são só exemplos…

Sim, falei mais das séries do que dos livros de propósito: a arte é mais do que pensamos e esconde-se até em séries comerciais norte-americanas. Serve para quê? Não vos sei dizer. Mas sei que vivemos mais: recordamos mais, aproveitamos mais a vida e, às vezes, somos até um pouco mais felizes.

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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