Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

Às voltas com a língua portuguesa

kids-1093758_1280

Por estes dias, tenho tido menos tempo para o blogue. Ah, os dias são sempre curtos, mas costumo arranjar tempo para umas escapadelas.

Ora, o problema é que, para escrever, é preciso tempo, mas também cabeça, e a minha cabeça, nesta última semana, tem andado mais virada para o papel, muito por causa do livro que escrevi sobre a nossa língua, que me tem feito dar umas quantas voltas.

Mas não pensem que não ando com ideias: tenho deixado muitos rascunhos na caixa do blogue. Quando a cabeça assentar, lá voltarei à rotina de vos deixar por aqui uns textos sobre línguas, livros e outras manias.

Deixem-me só contar-vos algumas das voltas do livro. Hoje de manhã, passei por uma experiência nova: fui à TVI falar sobre os segredos da língua. Na semana passada, andei pela Bertrand do Picoas Plaza, onde a editora organizou o lançamento, que me deixou muito feliz. Quanto aos agradecimentos, fi-los ao vivo — e tenho a sorte de os poder mostrar aqui, neste vídeo, que inclui a generosa apresentação de Fernando Venâncio. Agradeço agora a todos os leitores do blogue, que foram muitíssimo importantes neste projecto.

Não querendo abusar da vossa paciência, deixem-me só dizer-vos mais umas palavras sobre o livro (convém fazer alguma divulgação…):

  • Na primeira parte («A língua e a tribo»), descrevo a forma como a língua também serve para marcar a tribo a que pertencemos. Falo de sotaques (de Lisboa e do Porto, por exemplo), do mito da palavra «saudade» e até damos uma volta pela Ucrânia. Não deixo de contar uns segredos sobre os tempos de faculdade…
  • Na segunda parte,  («A família da língua»), falamos do parente no sótão (o galego), do irmão emigrado (o português do Brasil) e dos vizinhos: as outras línguas de Portugal (e também de Espanha, aqui ao lado). Falamos ainda do inglês e do chinês (e até do persa). Desconfio que será o primeiro livro sobre o português com uma citação do Beowulf
  • Há, depois, um intervalo, onde converso um pouco sobre as crianças e a língua portuguesa. É a parte mais pessoal de todo o livro, pois por lá andam a brincar o meu filho, os meus sobrinhos e o filho duma amiga minha. É um intervalo, afinal de contas.
  • Na terceira parte («O vício do pânico), podem encontrar textos sobre os famosos falsos erros de português («famosos» para quem costuma vir aqui ao blogue).
  • Na quarta parte («O que fazer com esta língua?»), fica o leitor com algumas pistas sobre como escrever um pouco melhor, que o livro não são só histórias, também diz alguma coisa de útil…

Há ainda segredos sobre palavrões, sobre linguistas, sobre a Internet — e mais umas quantas coisas

dozeDiga-se que muitos textos incluídos no livro começaram aqui, neste blogue. Todos foram revistos e alterados e há umas quantas novidades: só como exemplo, incluí um texto em que falo de erros verdadeiros — sim, porque existem mesmo erros de português, claro está… (O texto está na página 163: «E agora, algo completamente diferente: erros verdadeiros!»)

A língua é uma paixão que partilho com muitas outras pessoas. Espero ter criado um livro que sirva para aprender, mas também para passar umas boas horas de leitura, com alguns sorrisos.

Com este livro, quis celebrar a nossa língua, as línguas de todo o mundo e ainda as nossas vidas, as vidas dos falantes da língua, que — como muito bem diz Fernando Venâncio no prefácio — merecem sempre o nosso respeito. O livro é uma homenagem a esses mesmos falantes.

Espero que gostem — e espero que se divirtam, que também para isso escrevi o livro.


Doze Segredos da Língua Portuguesa. Edição da Guerra & Paz. Já nas livrarias. Encomendas: Guerra & PazWook | Bertrand | Fnac

RECEBA OS PRÓXIMOS ARTIGOS
Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

Comentar

1 comentário
  • Uma afirmação interessante:

    “…E ainda mais: demagogos da língua ficam ensinando que o português correto é a “norma culta” falada pelas elites (falsíssimo, nossas elites sempre foram burras e quem cultivou a língua foram pobretões e descendentes de escravos), estimulando o povo da periferia a permanecer no idioma do seu bairro. Isto é mais perverso que o aparheid, é mais um isolamento que impede o brasileiro de conhecer sua língua e sua história….”

    http://bloguedebd.blogspot.pt/2016/04/entrevistas-21-spacca.html

Certas Palavras

Arquivo

Blogs do Ano - Nomeado Política, Educação e Economia