Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

O caso Netuno (ou como o pânico linguístico faz mal)

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Sim, «Netuno» é uma palavra correctíssima em português do Brasil. Nós escrevemos (e lemos) «Neptuno» e os brasileiros escrevem (e lêem) «Netuno» e isto nada tem a ver com o acordo ortográfico.

Só tenho pena que em várias páginas de Facebook de gente muito preocupada com o português se ande a dizer, por estes dias, que o «Netuno» brasileiro é um grande erro e uma demonstração de analfabetismo.

Não: é apenas uma palavra especificamente brasileira, tal como «ônibus» e tantas outras. E, para sair da nossa língua, tal como «apartment» é uma palavra americana e «lift» uma palavra inglesa.

É um facto básico e inocente da língua portuguesa: existem palavras diferentes em Portugal e no Brasil. Que isto sirva para insultos e desconsiderações mostra bem o mal que faz o pânico linguístico: tolda-nos o pensamento e deixa-nos a ferver de raiva inútil.

Acalmem-se lá, ó gente!

(Voltei ao assunto porque fiquei pasmado com o número de partilhas do post original do Observatório da Asneira. Tanta gente sempre pronta a mandar pedras perante a ignorância dos outros não consegue parar cinco segundos para pensar antes de insultar um povo inteiro por usar palavras correctíssimas. Incrível.)

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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58 comentários
      • Ao consultar “Neptuno” no Priberam, Isabel, vejo a mesma definição de “Netuno”. O fato é que a primeira grafia é portuguesa e a segunda, brasileira. Ambas, portanto, existem na língua portuguesa. Se nós, brasileiros, algum dia optarmos por chamar nossa variedade da língua de língua brasileira (ou língua tupiniquim, ou Luzia, tanto faz), esse fato deixará de existir. Até lá, negá-lo é irrazoável.

  • Mas o que será NETUNO?

    Esta palvara está desenraizada e não significa absolutamente NADA.

    A palavra NePtuno é originária do Latim NEPTUNUS, logo, ao retirarem aquele P perde-se o sentido da palavra.

    Os brasileiros não estudam LATIM, como poderão conhecer as palavras?

    • Será que então os italianos também estão errados, já que dizem «Nettuno»? As palavras vão mudando ao longo dos séculos e, no Brasil, esta palavra perdeu o «p».

        • A origem da língua italiana é o latim, língua que a Isabel usou no seu argumento inicial, e que deu origem a todas as línguas latinas, incluindo a nossa.

          Depois, as palavras, ao longo da história, perdem e ganham sons: sempre assim foi. O “Netuno” brasileiro perdeu um “p”, tal como o “Nettuno” italiano.

          Além disso, há imensos casos de palavras portuguesas que perderam sons: “Lua” (perdeu o “n” entre o “u” e o “a”), etc. De acordo com o seu argumento, tal significaria que lua “esta desenraizada e não significa nada”. O que não é verdade, como sabe.

          • A origem da Língua Italiana não é o Latim. Vá investigar, Marco Neves.

            As perdas de consoantes em algumas palavras da Língua Portuguesa têm uma história científica.

            Se quiser aumentar os seus conhecimentos, sugiro que leia o seguinte livro:
            «Por Amor à Língua Portuguesa» – Ensaio genealógico-filológico, científico-linguístico e pedagógico-didáctico, da autoria do filólogo Fernando Paulo Baptista.

            O que faz falta é um verdadeiro conhecimento da Língua Portuguesa e da sua EVOLUÇÃO CIENTÍFICA desde D. Diniz.

          • A origem da língua italiana não é o latim? Estou a ver que não temos forma de dialogar sobre o assunto, pois está a negar o que todos os linguistas sérios sabem. É claro como a água para qualquer pessoa que estude o assunto que o italiano tem origem no latim. Negar isso é o mesmo que negar que a Terra anda à volta do Sol.

            As perdas de consoantes de palavras em português, tanto em Portugal, como no Brasil, podem ser analisadas de forma científica: não há diferenças entre os dois fenómenos.

            Investigo, leio e escrevo sobre o assunto há muitos anos. Aconselho, aliás, o livro que escrevi sobre o assunto e que sai precisamente hoje (pode ver aqui ao lado, neste blogue, as referências).

          • A língua italiana ou italiano (italiano) é uma língua românica. O italiano padrão baseia-se nos dialectos da Toscana e é de certo modo intermédio entre as línguas da Itália do sul e as línguas galo-românicas do norte.
            O Latim era o idioma dos antigos romanos, que deixaram na Península Ibérica a sua marca. Os ROMANOS. Não os ITALIANOS.

            Consegue destrinçar a diferença?

          • A língua italiana baseia-se, de facto, nos dialectos da Toscana, que por sua vez tiveram origem no latim popular. É uma língua românica, tal como o português, o espanhol, o catalão, etc. Todas as línguas românicas tiveram origem no latim. O português de Portugal, o galego, o português do Brasil, o espanhol o catalão: são tudo línguas românicas, latinas, novilatinas (como lhes quiser chamar, que a terminologia é bastante variada).

            Quanto à diferença entre romanos e italianos, parece-me óbvia: é a mesma diferença que entre romanos e portugueses. Mas se os romanos deixaram influências muito significativas na Península Ibérica, também as deixaram na Península Italiana, como é óbvio.

    • Ainda mais uma nota: «Netuno», sem «p», não perdeu o sentido. Qualquer professor brasileiro de astronomia usa a palavra «Netuno» e sabe perfeitamente o seu sentido. Dizer que a perda de uma letra, ao longo dos séculos de evolução da língua, leva a que o sentido se perca levaria a concluir que, do latim ao português, perdemos muitos outros sentidos, já que há inúmeras palavras que perderam letras na passagem do latim para o galego e deste para o português.

      • Marco Neves, as “perdas” das consoantes em algumas palavras no Brasil, não têm nada a ver com EVOLUÇÃO da Língua, mas tão-só com uma simplificação da escrita, com o intuito de facilitar a aprendizagem da língua e diminuir o índice elevado de analfabetismo que sempre existiu no Brasil.
        (isto não sou eu que digo. Isto diz quem sabe).

        Esta é a verdade.
        No Brasil a Língua Portuguesa anda à mercê da capacidade de aprendizagem de cada um. Escreve-se muito mal e fala-se ainda pior (e não estou a referir-me ao jeito peculiar de pronunciar as palavras).

        Refiro-me ao “eu vi ELA” (em vez de eu a vi); “eu LHE gosto”… enfim…
        Aplicam bastante mal as regras gramaticais, ou melhor, não as sabem, por isso não as usam. Ou como vocês diriam: não sabem elas, não usam elas…
        E digo isto com muita tristeza.

        • Está a desviar-se do assunto. A discussão é à volta da palavra “Netuno”, usada por brasileiros com formação superior, professores universitários, etc. Não é por falta de educação que usam a palavra.

          A palavra “Netuno” perdeu o “p” no Brasil, tal como também perdeu no italiano e tal como a palavra “luna” se transformaram em “lua” em Portugal. São fenómenos de mudança linguística presentes em todas as línguas. Não há razão nenhuma para dizer que os brasileiros não devem usar a palavra “Netuno” ou que esta “não tem sentido”. Claro que tem sentido! É uma palavra correcta no Brasil, tem o sentido óbvio de planeta e o seu uso não tem origem na falta de formação dos brasileiros.

          Repito, porque me parece importante: os professores universitários brasileiros de astronomia ou, por exemplo, de latim usam “Netuno” sem qualquer hesitação. Não estão errados: estão a usar correctamente a sua língua (o português do Brasil), tal como nós usamos a nossa (com “p” em Neptuno) e os italianos usam a deles (sem “p” em Nettuno).

          • Agora disse bem: a VOSSA língua. Que não tem nada a ver com a NOSSA língua.

            Eu estou-me nas tintas para o modo errado como escrevem no Brasil. Agora não venham IMPOR-NOS essa linguagem, porque não a aceitaremos.

            Voltando ao NETUNO.
            NETUNO, tal como ANISTIA, e outras aberrações que tais… não têm qualquer sentido.

            Os Brasileiros querem imitar os italianos, os americanos, esquecendo-se de que a língua deles é OUTRA, que não a Portuguesa. pois fazem muito mal.
            E se assim querem continuar, continuem, mas mudem o nome à Língua. Chamem-lhe língua brasileira, um desvio da Língua Portuguesa.

          • Cara Isabel, não sei se percebeu, mas sou português, não brasileiro. E ninguém está aqui a impor nada a ninguém, excepto a Isabel, que quer impor a forma de escrever especificamente portuguesa («Neptuno») aos brasileiros (que escrevem «Netuno» há muito tempo).

    • Você poderia explicar melhor, Isabel, como a queda do P implica a perda de sentido da palavra “Ne(p)tuno”? Embora tenha estudado latim, eu não consigo perceber…
      Peço desculpas, mas, a meu ver, você está sofismando.

      • Bruno Amorim, se não estudou Latim, não adianta eu estar para aqui a explicar-lhe por que NETUNO não tem qualquer significado na Língua Portuguesa. NETUNO assim… escrito e falado não existe.

        A explicação será a mesma da palavra recePção, que vem do latim RECEPTIO.

        Por que motivo pronunciam NETUNO e pronunciam recePção?
        Por que motivo escrevem ATO (uma forma do verbo atar) por aCto (substantivo, oriundo do latim aCtus, significando o que se fez?

        Por que motivo escrevem FATO (do gótico FAT, que significa vestuário) por faCto , do latim faCtum, que significa acção realizada?

        Eu digo-lhe porquê: porque o estudo da Língua Portuguesa no Brasil é bastante mau. É péssimo. É uma balda. Nada se aprende sobre Etimologia, Morfologia, Sintaxe, Fonética, Gramática, Acentuação, etc.

        E sabe por que digo isto? Porque aprendi a ler e a escrever no Brasil, e quando regressei a Portugal, tive de estudar Grego e Latim, para aprender a escrever e a ler correCtamente a minha Língua Materna, ou seja a verdadeira Língua Portuguesa.
        Esta é a explicação que cabe neste espacinho.

        • Os brasileiros escrevem “fato”, nós escrevemos “facto”. Os brasileiros dizem “Netuno”, nós dizemos “Neptuno. Achar que os brasileiros estão a usar uma língua errada é um absurdo. Seria o mesmo que dizer que os portugueses estão a usar uma língua errada porque já não falamos latim.

          As línguas mudam, como sabe, e a língua dos portugueses e dos brasileiros mudou de forma diferente dos dois lados.

          Haver ou não falta de estudo do latim por parte dos brasileiros é irrelevante. Não foi por falta de estudo do latim que que nós dizemos “lua” e não “luna”. Da mesma forma, os americanos e os ingleses usam um inglês diferente, não porque uns estudem mais do que outros, mas porque as línguas evoluem de forma diferente em espaços diferentes.

          • Como tem uma visão distorcida das Línguas!
            O Português deriva do Latim. E foi evoluindo cientificamente. E agora é Português.
            O “brasileiro” deriva do Português, que foi sendo mutilado, e agora que lhe chamem outra coisa, mas não Português.

            E esquece-se de um pormenor importante: Os americanos nunca quiseram IMPOR aos ingleses a língua que adoptaram e que não foi assim tão destruída, como os brasileiros destruíram o Português.

            E os brasileiros querem impor-nos uma língua desvirtuada, desenraizada, americanizada, abrasileirada, ilalianizada, espalholizada, que não aceitaremos nunca.

            E é disso que se trata.
            Não se mutila uma língua, apenas para simplificar a sua aprendizagem.
            A língua no Brasil não evoluiu. Foi simplesmente mutilada.
            E querem agora impingir-nos essa língua mutilada, por alma de quem?
            A Língua Portuguesa não está à venda.
            Que escrevam e digam netuno, mulé, contato, anistia, ato…. Que escrevam omem, aver, umidade, umilhação… Que distorçam as palavras, mas não lhe chamem Português, assim como nós já não chamamos LATIM à nossa Língua.

          • Nenhum brasileiro quer impor “Netuno”. Se o seu discurso se estiver a referir ao acordo ortográfico, fique a saber que não gosto do acordo, mas esta questão nada tem a ver com o mesmo. Quanto à minha visão das línguas, baseia-se na linguística e não na confusão mental que o discurso da Isabel revela.

          • Olha, Isabel, posso te garantir que os brasileiros não estão querendo impor nada aos portugueses. Não faz a mínima diferença para nós se aí se escreve “Netuno” ou “Neptuno”. A verdade é que dedicamos muito pouco tempo do nosso dia a considerar o que se passa do lado de lá do Atlântico.
            E ainda te garanto mais uma coisa: continuaremos a escrever Netuno, ato, fato etc. e a chamar a língua de portuguesa até que nos dê vontade de chamá-la de outra forma. Por quê? Porque podemos. Se isso te incomoda, continue dando murros em ponta de faca, que é o que parece te apetecer. O mundo gira independentemente de você querer ou não.

          • Garanto que os portugueses com uma visão razoável da língua não partilham destas ideias absurdas aqui expressas pela Isabel, que chega a acusar-me de ser não ser português por aceitar que os brasileiros usem palavras diferentes das nossas…

            Enfim, a irracionalidade linguística existe e às vezes em doses industriais. Sinto alguma pena. É exactamente essa visão negativa e fechada da língua que combato neste blogue, tentando nunca cair nos insultos que já ouvi aqui.

        • A palavra Netuno é uma palavra portuguesa. Embora esta grafia seja mais usada no Brasil, ela é formal e materialmente correta.
          O tipo de argumento utilizado pela Isabel é cientificamente insustentável e não serve para justificar virtualmente nada, para mais numa língua que, desde o século XII, teve a sua evolução assente na oralidade.
          Para além disso, as observações diacrónicas que faz à evolução da língua portuguesa são essencialmente de dois tipos: ou aleatórias, ou incorretas. Exemplos do primeiro caso são as referências extemporâneas ao gótico (em vez do seu dialeto ibérico ostrogótico, existente mas em baixíssima quantidade nos estratos linguísticos); exemplos do segundo caso são a perceção de que, entre o Latim e o Português atual, não houve estágios intermédios.
          E porque motivo diz “NePtuno” e não diz “caPtivo”, cara conterrânea?
          Em tempo: muito se estranha que a Isabel, defendendo o que defende, continue a escrever “é” em vez de “he” ou “fonética” em vez de “phonetica”.
          Também estranho que , querendo usar argumentos técnicos, não conheça as subdivisões metodológicas da linguística.
          Já agora, estranho também que não utilize letra maiúscula depois de reticências e que os seus estudos latinos não tenham incluído os simétricos: na verdade, quer o antigo “aCto” quer o atual substantivo “ato” derivam de “actus”, simétrico de “actum”, supino de “agĕre”, o que justifica a correção absoluta do termo agora em vigor.

          • Obrigado, caro Luís, pela ajuda serena e rigorosa neste debate absurdo.

          • Luís Santos, desculpe, mas a palavra NETUNO não existe em Língua Portuguesa.

            Não estamos a falar da mesma Língua.
            Eu apenas conheço uma Língua Portuguesa, adoptada pelos países de expressão portuguesa de África e Timor. E é essa que me interessa, e é essa que defendo.

            Não é verdade que a Língua Portuguesa teve uma evolução assente na oralidade (estou a falar da Língua Portuguesa).

            Aconselho-o a ler o Ensaio genealógico-filológico, científico-linguístico e pedagógico-didáctico, «Por Amor à Língua Portuguesa» do Filólogo Fernando Paulo Baptista, e entenderá por que não continuo a escrever “phonetica” e outras coisas que tais.

            Lamento dizer-lhe que ATO é um tempo do verbo ATAR e nada tem a ver com ACTO de ACÇÃO. E não sou eu que o digo. Portanto quem diz ATO por ACTO diz mal.

            Escrevo com letras maiúsculas depois de reticências quando as reticências são finais e não intercaladas (tipo pausa).

            Acrescento que “correção” (que deve ler-se corr’ção) também não existe em Língua Portuguesa.

            E não é absolutamente verdade que esteja em vigor outro acordo ortográfico que não o de 1945.

        • A ignorância é, de facto, muito atrevida! Seria bom lembrar que afinal até o gótico e o latim têm a mesma origem, são ambas línguas indo-europeias, por muito desconcertante que possa parecer. Obviamente, a existência de “fat” gótico nada tem a ver com a origem de “fato” (PB) (= facto, PE), nem é incontroversa a origem de “fato” (peça de vestuário). Não desconhecerá por certo que, mesmo que tivessem origens distintas, coisa que não está provada, poderiam ter confluído historicamente na mesma forma fónica, como acontece noutros casos. A história das línguas é o que é e não aquilo que pretendemos que seja, conforme os nossos interesses argumentativos. E já que invocou o caso do italiano, devo dizer-lhe que é em tudo semelhante ao caso alemão – o facto de ambas não terem tido origem na variedade falada na capital (ao contrário do que sucedeu como o Francês ou o Espanhol, entre outras) não retira a uma e outra a origem latina e germânica, respetivamente. Ou vai dizer a seguir que o Latim nunca teve variedades e que todas as línguas novilatinas descendem diretamente do Latim?

          • A bem da verdade, diga-se que fui eu e não a Isabel a invocar o italiano no primeiro debate, mas em tudo o resto, 100% de acordo. Muito obrigado pela contribuição, muito bem fundamentada.

          • Rute Soares, o facto é que “fato”, em Língua Portuguesa, significa peça de vestuário.

            «Fato», como acontecimento, não existe em Língua Portuguesa.

            Repare que eu estou a falar da Língua Portuguesa.

        • Ah, agora está tudo explicado: passou a infância no Brasil, de que deve ter guardado algum trauma profundo. Só mesmo um ressentimento entranhado e antigo para explicar tanta altivez na demonstração de tanta ignorância, que recende a xenofobia.

          • Deve ter sido alvo de anedotas de portugueses a infância inteira.
            O resultado está aí.

  • Marco Neves, desculpe, mas se acha que dizer NETUNO é correcto, a sua visão das línguas é que é bastante confusa, e nem sequer é baseada na linguística.

    Sei que o Marco Neves não é brasileiro, mas para mim, quem defende NETUNO, também não é português.

    Além disso, eu, que vivi no Brasil, e como já referi, foi lá que aprendi a ler e a escrever, sei por que eles dizem e escrevem NETUNO e não Neptuno, como deveriam. E garanto-lhe que o motivo não é EVOLUÇÃO da língua.

    Nenhum povo, colonizado por Portugal, mutilou tanto a Língua Portuguesa como o povo brasileiro. E isto tem uma explicação histórica.

    E eu “enrolei” nesta conversa a questão do AO/90, porque os portugueses menos esclarecidos (para não dizer ignorantes), onde estão incluídos obviamente os governantes, os medrosos, os acomodados, os comodistas, os lacaios do poder, os subservientes, já andam por aí a escrever INVITA (referindo-se à cidade do Porto), ESPETADOR, CONTATO, ATO (por acto), fato (por facto), e qualquer dia estão a escrever NETUNO…

    E ainda me vem acusar de confusão mental?????

    • Vou publicar este seu comentário delirante só para ficar como exemplo de como a confusão mental no que toca às línguas chega a extremos inacreditáveis.

      Desejo que um dia consiga libertar-se dessa sua confusão mental sobre as línguas humanas. Não é, certamente, a visão que tento passar neste blogue, que quer ser respeitadora de todos os falantes e quer celebrar a língua, dentro duma visão realista e baseada em factos e na análise linguística, como poderá perceber se se der ao trabalho de ler os artigos que aqui tenho escrito (sei que não se vai dar ao trabalho, mas fica a proposta).

      Só um exemplo da sua visão errada: diz que não sou português (!) porque acho que os brasileiros podem dizer NETUNO (que é a palavra correcta em português do Brasil). Nunca me passaria pela cabeça dizer um disparate destes quando não concordo com alguém. Espero que me tenha a decência de pedir desculpa por tal enormidade.

      • Não vou pedir-lhe desculpa por tal “enormidade”, porque a “enormidade” não é enormidade, mas um outro modo de dizer que quem não defende a sua própria Língua não merece ser chamado de português. Se percebeu outra coisa, não é culpa minha. Mas já descobri o motivo da sua implicância comigo.

        Pois publique o meu comentário, se isso o apraz, mas tenha a hombridade de não o retirar do contexto.

        Para o publicar terá de publicar toda esta “conversa” que aqui se gerou ao redor do absurdo de se escrever NETUNO, para que os outros entendam em que circunstância eu disse o que disse.
        Não faça como o outro…

        Se há uma coisa que me revolta é a desonestidade intelectual… e este modo de ser português, achando que apenas o que o “homem” diz é que se escreve…

        • Isabel, não percebeu o que disse: quando disse que iria publicar, quis dizer que não o apaguei, deixei-o na página, apesar de ser um comentário insultuoso. Agora ainda me acusa de desonestidade intelectual sem razão nenhuma. Enfim. Ficarei à espera das suas desculpas pelos insultos gratuitos. Sentado, claro, que já percebi que não percebe os erros em que cai.

        • Já agora, quem veio implicar foi a Isabel, aqui ao blogue. Nunca impliquei consigo, simplesmente dei a minha opinião, tendo sido insultado por isso.

          • Marco Neves, na verdade não percebi, o sentido daquele seu “publicar”.
            Como os comentários têm aqui sido publicados de imediato, e o Marco disse “vou publicar” pensei que fosse publicá-lo noutro lugar.

            O modo como se diz as coisas, por vezes, induz em erro. O erro foi meu? Entendi mal? Não tenho sei.

            Eu não o acusei de “desonestidade intelectual”. Eu simplesmente referi a “desonestidade intelectual” caso fosse publicar o comentário noutro lugar, fora do contexto. O meu pensamento foi legítimo. Até porque está sempre a acontecer esse tipo de coisas.

            Estando essa parte esclarecida, automaticamente a “desonestidade intelectual” deixa de ter razão de ser.

            Não sei por que se sentiu insultado.

            Eu poderia dizer o mesmo da sua parte, devido às suas considerações a meu respeito, e sem fundamento. Mas não digo, nem isso me importa porque a mim só insulta quem eu deixo.

            Não vou pedir-lhe desculpa por algo que não fiz.
            Não o insultei. Apenas respondi às suas provocações (que de opinião nada tiveram).

            E eu não vim aqui, ao seu blogue, implicar consigo. Vim apenas defender a Língua Portuguesa. Conhecendo, como conheço, os dois lados da “barricada”, não posso concordar que mutilem palavras, apenas porque sim, e neste caso para italianizar o NePtuno.

            Pediria desculpa, sem nenhum problema, se considerasse que o insultei. Mas não é meu hábito insultar ninguém. E sinceramente penso que não o insultei.

            Se o que escrevi lhe pareceu um insulto, peço desculpa, apenas por não perceber o seu conceito de insulto.

    • Mas em que parte do Brasil alguém fala (ou escreve) INVITA ou ESPETADOR para invicta e espectador?

      Espetador, para mim, é alguém que anda a espetar pessoas – de preferência com um espeto, para tornar a imagem ainda mais interessante.

      Pergunto aqui ao Marco, que estuda este fenômeno de línguas: sabes de algum outro caso de “briga” entre países por conta de versões diferentes do idioma?

      (Peço perdão antecipadamente à Isabel por usar aspas brasileiras e não portuguesas, mas não tenho elas à mão no teclado, apesar de as achar muito mais legais do que as nossas)

    • Isabel A. Ferreira: de FACTO a senhora é completamente ignorante!
      Porque se o não fosse saberia que a palavra facto, no português do NOSSO Portugal, continua a grafar-se com “c” (veja: http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?action=lemma&lemma=7358) e que a variante do AO/90 (que sim, está em vigor por mais que lhe custe!) sem o “c” apenas é aceite no Brasil.
      E que também a “Invicta” e “invicto” se escrevem (e leem!) com “c”!
      E “espectador” (volte a informar-se: http://www.portaldalinguaportuguesa.org/simplesearch.php?action=lemma&lemma=81188&highlight=^espectador$ ).
      Tal como “contacto”!
      O PORTUGUÊS DO BRASIL admite formas diferentes?! Claro que sim! Mal era que não fosse! Como se não bastasse a distância, aquele fantástico país que nós ajudámos a construir (e que, infelizmente mas “fruto da época”, muito explorámos também!) já leva, ainda por cima, quase 200 anos de independência! Assim é com todos os territórios onde se fala português, seja em África ou em Timor; ou acha que aí se fala português como na (sua, parece, saudosa!) “metrópole”?!
      O que a senhora revela é um profundo rancor para com o Brasil e os brasileiros, um profundo desprezo que eu apelidaria de racismo, puro e duro! para além de uma confusão hilariante, patética, absurda, sobre a Língua Portuguesa e o seu modo de funcionamento e evolução. Bem como do Italiano (essa de não vir do Latim é de rir a bandeiras despregadas!).
      Vá lá saber-se porquê todo esse rancor. Felizmente essa é uma posição que os portugueses, que como eu aqui se manifestaram, não comungam! E estou convencido que não é partilhada pela maioria dos nossos conterrâneos.

    • Em que ponto? Quando diz que “Netuno” é um erro no Brasil (o que é falso)? Ou no ponto em que diz que o italiano não vem do latim (o que também é falso)?

  • O que lhe digo é que NETUNO não existe em Língua Portuguesa.
    Interprete como quiser.

    O que lhe digo é que a língua italiana não deriva propriamente do Latim, e não sou eu que o digo.
    Interprete também como quiser.

    O que lhe digo é que quem não defende a Língua Portuguesa não é (bom) português.
    Interprete como quiser.

    • Agradeço o seu comentário e fico mais descansado: como nos últimos anos não tenho feito outra coisa do que defender a língua neste blogue e, agora, em livro, já percebi que afinal até pode ser que me considere português. Afinal, não estou enganado quanto à nacionalidade.

  • Portugal Impôs a língua portuguesa no Brasil colônia. Há muitas outras Influências linguísticas e culturais que fazem parte da identidade do Brasil. Lembrando que a primeira língua do Brasil não foi o português… No decorrer da sua história, o português brasileiro incorporou empréstimos de termos indígenas, como do tupi, e também de línguas africanas (lembrem-se da escravidão que Portugal não sofreu como o Brasil). O censo de 2010 contabilizou 305 etnias indígenas no Brasil, que falam 274 línguas diferentes. Só uma pergunta: O Brasil quer impôr a maneira de se falar em Portugal? Quem impôs o português no Brasil acarretando o extermínio de muitas línguas tribais? O Brasil mutilou a língua portuguesa??? E quem mutilou as línguas dos povos indígenas? Se o português do Brasil tem uma variação, muito se deve ao resquício linguístico dos povos que lá viviam…

    • Permita-me corrigi-lo, Billy Jack: Portugal NÃO IMPÔS a Língua Portuguesa ao Brasil colónia, assim como a Inglaterra NÃO IMPÔS a Língua Inglesa a nenhuma das suas colónias.

      É preciso saber História, para compreender o enquadramento da colonização, e o conceito de “colónia”.

      E o que se diz para Portugal, diz-se para a Inglaterra, para a Espanha (que também NÃO IMPÔS a Língua Castelhana a nenhuma das suas colónias), para a Holanda, para a França…

      O complexo do “colonizado” ainda está muito presente em muitos brasileiros.
      É lamentável.

      • Se acha que Portugal não impôs a Língua Portuguesa ao Brasil, sugiro que investigue um pouco sobre os feitos de um português chamado Marquês de Pombal no Brasil do século XVIII. Acredite: ninguém aqui pediu para poder falar o “vosso” idioma. Quisera eu que todo o conhecimento e a identidade cultural que carregam o Quimbundo, o Tupi, o Iorubá e tantos outros idiomas que falavam meus ancestrais não tivessem sido, de maneira tão indiferente, arrancados da minha linhagem.
        Entristece-me que, mais de 500 anos depois do primeiro contato, em Portugal ainda haja gente que torça o nariz frente à cultura e a linguagem que resultou dos séculos que passamos se esforçando para conciliar a preservação da nossa identidade à vontade do colonizador.
        Se você se sente ameaçada pela possibilidade de agora a fala portuguesa ser a que fique na sombra da fala brasileira, espero que isso lhe ajude a entender melhor e sentir um pouco do gosto de como tem sido para nós de cá todos esses anos de imposição de uma linguagem com a qual não nos identificávamos. Mas pode ficar tranquila: isso não vai acontecer. Como já disseram em outros comentários aqui, o que o AO90 fez não foi impor que os portugueses usassem o idioma da forma que é usado no Brasil, e sim decretar oficialmente que as duas variadades são válidas.
        Quanto à questão que você mencionou a respeito do nome a se dar à fala usada no Brasil, também acho que seria interessante – ainda que não assim tão necessário – que começassem a chamar a fala daqui de “Brasileiro”, ou, como já foi chamada uma língua falada aqui e que hoje já está extinta, de “Língua Brasílica”. Quem sabe algum dia façamos igual fizeram os galegos, que apesar de terem um idioma parecidíssimo ao Português, decretaram independência aos acordos gramaticais e ortográficos usados no Português e começaram a decidir os seus próprios sozinhos?

  • Estou aprendendo a falar a língua. Peço perdão pelos erros ortográficos e gostaria de ajuda para a evolução do meu aprendizado. Muito obrigado.

  • Marco Neves poderá informar-me por que não tenho o direito de responder a alguns comentários que me são aqui dirigidos?

    Se permite que os outros me acicatem, tem de me dar o direito de me defender. Ou não?

    • Só posso aprovar os seus comentários quando os vejo. Como compreenderá, não estou sempre à frente do computador.

  • Não impôs? é lamentável que muitos brasileiros ainda sofram com a colonização afinal, a “metrópole” não sofreu com séculos de escravidão. Foi uma selvageria e genocídio o que ocorreu lá no Brasil… E o tupi-guarani, cadê??? Fica nos resquícios do português brasileiro. Na Nova Zelândia preservamos o inglês britânico, mas há uma pequena variação natural. USA variaram bastante (Ex. color and colour). Portanto, acho um exagero apedrejar a identidade cultural e linguística do Brasil e dizer que os brasileiros estão mutilando a língua portuguesa. Se for assim os new zealanders estão mutilando o inglês, assim como os americanos, South África e etc… Good Luck! Pray for u!

  • Isabel A. Ferreira, não vou continuar a discutir com alguém que entende ser dona da verdade acerca do que é a Língua Portuguesa. Ainda bem que tem tantas certezas, que eu como cientista das línguas continuo a preferir ter dúvidas e, consequentemente, margem para aprender e evoluir! Fique com as suas certezas e continue a ignorar tudo o que se tem escrito sobre o Português Europeu e o Português do Brasil que só lhe fica bem essa atitude. Só espero que não seja professora de Português e que, caso me engane, nunca lhe calhem em sorte alunos brasileiros, falantes de Português do Brasil, porque isso sim seria catastrófico. E já que mencionou a ausência de colonização linguística na América, sugiro-lhe que medite, a título de exemplo, sobre o caso daquela que era dada em 2003 como última falante de Chamicuro, Natalia Sangama, habitante de Pampa Hermosa no Peru: “Quando era pequena obrigavam-na a ajoelhar-se em cima de milho se falasse a sua língua. Mas ainda hoje continua a sonhar nela. «Sonho em chamicuro mas não posso contar os meus sonhos a ninguém. Há coisas que não se podem dizer em espanhol. É solitário ser-se o úlitmo.«” (Prado Coelho, A., “Só eu sei falar a minha língua”, Pública, 14-9-2003)

  • Essa tese de que nós, brasileiros, estaríamos impondo nossa grafia por meio do AO90 não passa duma grande bobagem. Se fossemos nós quem «mandássemos» no acordo, então manteríamos os nossos amados tremas. A língua portuguesa foi mutilada, sim, mas não por brasileiros, nem por lusos, mas pelo interesse comercial das grandes editoras. Ganância não tem pátria, nem orgulho, nem história, nem nação.

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