Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

Cinco aspectos em que o mundo está bem melhor

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Algumas pessoas caem no erro de considerar o progresso como algo impossível. O mundo não é perfeito, logo só pode ser péssimo. E, mais do que péssimo à partida, tem tendência geral e irreprimível para piorar.

Ora, há coisas em que o mundo está melhor, e não estamos a falar de pormenores. Sei bem que o mundo é um lugar perigoso e que todos gostaríamos de viver em sociedades bem melhores. O que digo é apenas isto: em alguns aspectos as coisas estão a melhorar. O mundo está mal, mas já esteve pior. O que quer dizer que pode ficar ainda melhor e não convém baixar os braços: estamos muito longe de estar derrotados.

Aqui estão alguns aspectos em que o mundo está melhor hoje do que estava há 100 anos:

  1. A mortalidade infantil está a diminuir. O bem-estar das crianças é algo que todos prezamos. Ora, um dos indicadores mais seguros do bem-estar infantil é a taxa de mortalidade infantil. Claro que uma criança pode estar viva e viver pessimamente: mas uma mortalidade menor implica necessariamente que há melhores condições de vida nesses primeiros anos. Ora, como diz a UNICEF, uma das maiores conquistas da Humanidade foi a diminuição da taxa de mortalidade infantil entre 1990 e 2013: a diminuição foi de 49% — quase metade!
  2. As mulheres são mais respeitadas. Em muitos lugares do mundo, as mulheres estão no mercado de trabalho, têm direitos políticos iguais aos homens, são respeitadas como iguais em termos jurídicos e humanos e conseguiram ultrapassar os homens em alguns contextos (por exemplo, a universidade). Em muitos lugares do mundo, esta conquista é ainda uma miragem e mesmo nos países europeus há muitíssimo por fazer. Mas alguém nega que estamos bem melhor do que há 100 anos?
  3. A miséria diminuiu a nível global. O número de famílias que vivem com fome está a diminuir de forma tão visível que é estranho poucos referirem esta evolução positiva do nosso mundo. Acaba por ser perigoso ignorar esta tendência, até porque podemos conseguir bem melhor se perceberemos o que fizemos bem.
  4. A violência está a diminuir. Sim, esta afirmação parece absurda para quem gosta de ver telejornais, mas é verdade: a nível global, a violência física diminuiu de forma clara — temos menos guerras, menos homicídios e menos violações do que há 100 anos. Convém perceber porquê para podermos avançar nesta direcção. (A impressão generalizada de que a violência está a aumentar terá muito a ver com o facto de hoje termos acesso a notícias de todo o mundo.)
  5. A inteligência está a aumentar. Outra afirmação que vai contra tudo o que andamos por aí a ouvir. Parece ser dogma de quase todas as gerações que todos aqueles que nasceram mais tarde são mais estúpidos. Mas a verdade é esta: os testes de QI têm de ser alterados periodicamente para os tornar mais difíceis, pois as gerações parecem estar cada vez mais espertas. E esta, hein?

Algumas pessoas talvez julguem melhor estarmos calados a respeito de todas estas melhorias, não vá o diabo tecê-las e começar tudo a andar para trás. Ora, para melhorar, precisamos de saber o que fizemos bem e o que fizemos mal. Não é correcto olhar apenas para o que corre mal.

Outras pessoas estarão genuinamente convencidas que a verdade é exactamente o contrário: temos mais pobres, mais violência, mais desigualdade de género. Mas a verdade nua e crua é outra: o mundo não segue nenhuma regra segundo a qual tudo tem de piorar. Nos aspectos que referi acima, conseguimos algum progresso, mesmo que frágil.

Sei que este progresso é acompanhado por outros aspectos em que estamos pior (a desigualdade económica, por exemplo). Mas para quê ignorar estes avanços, pondo-os em risco? Na verdade, uma visão catastrofista do mundo é muito mais ingénua do que uma visão que olha para a realidade tal como ela é — e além de ingénua, é perigosa, pois deixamos de ter noção daquilo que podemos perder se quisermos andar para trás.

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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