Algumas pessoas caem no erro de considerar o progresso como algo impossível. O mundo não é perfeito, logo só pode ser péssimo. E, mais do que péssimo à partida, tem tendência geral e irreprimível para piorar.
Ora, há coisas em que o mundo está melhor, e não estamos a falar de pormenores. Sei bem que o mundo é um lugar perigoso e que todos gostaríamos de viver em sociedades bem melhores. O que digo é apenas isto: em alguns aspectos as coisas estão a melhorar. O mundo está mal, mas já esteve pior. O que quer dizer que pode ficar ainda melhor e não convém baixar os braços: estamos muito longe de estar derrotados.
Aqui estão alguns aspectos em que o mundo está melhor hoje do que estava há 100 anos:
- A mortalidade infantil está a diminuir. O bem-estar das crianças é algo que todos prezamos. Ora, um dos indicadores mais seguros do bem-estar infantil é a taxa de mortalidade infantil. Claro que uma criança pode estar viva e viver pessimamente: mas uma mortalidade menor implica necessariamente que há melhores condições de vida nesses primeiros anos. Ora, como diz a UNICEF, uma das maiores conquistas da Humanidade foi a diminuição da taxa de mortalidade infantil entre 1990 e 2013: a diminuição foi de 49% — quase metade!
- As mulheres são mais respeitadas. Em muitos lugares do mundo, as mulheres estão no mercado de trabalho, têm direitos políticos iguais aos homens, são respeitadas como iguais em termos jurídicos e humanos e conseguiram ultrapassar os homens em alguns contextos (por exemplo, a universidade). Em muitos lugares do mundo, esta conquista é ainda uma miragem e mesmo nos países europeus há muitíssimo por fazer. Mas alguém nega que estamos bem melhor do que há 100 anos?
- A miséria diminuiu a nível global. O número de famílias que vivem com fome está a diminuir de forma tão visível que é estranho poucos referirem esta evolução positiva do nosso mundo. Acaba por ser perigoso ignorar esta tendência, até porque podemos conseguir bem melhor se perceberemos o que fizemos bem.
- A violência está a diminuir. Sim, esta afirmação parece absurda para quem gosta de ver telejornais, mas é verdade: a nível global, a violência física diminuiu de forma clara — temos menos guerras, menos homicídios e menos violações do que há 100 anos. Convém perceber porquê para podermos avançar nesta direcção. (A impressão generalizada de que a violência está a aumentar terá muito a ver com o facto de hoje termos acesso a notícias de todo o mundo.)
- A inteligência está a aumentar. Outra afirmação que vai contra tudo o que andamos por aí a ouvir. Parece ser dogma de quase todas as gerações que todos aqueles que nasceram mais tarde são mais estúpidos. Mas a verdade é esta: os testes de QI têm de ser alterados periodicamente para os tornar mais difíceis, pois as gerações parecem estar cada vez mais espertas. E esta, hein?
Algumas pessoas talvez julguem melhor estarmos calados a respeito de todas estas melhorias, não vá o diabo tecê-las e começar tudo a andar para trás. Ora, para melhorar, precisamos de saber o que fizemos bem e o que fizemos mal. Não é correcto olhar apenas para o que corre mal.
Outras pessoas estarão genuinamente convencidas que a verdade é exactamente o contrário: temos mais pobres, mais violência, mais desigualdade de género. Mas a verdade nua e crua é outra: o mundo não segue nenhuma regra segundo a qual tudo tem de piorar. Nos aspectos que referi acima, conseguimos algum progresso, mesmo que frágil.
Sei que este progresso é acompanhado por outros aspectos em que estamos pior (a desigualdade económica, por exemplo). Mas para quê ignorar estes avanços, pondo-os em risco? Na verdade, uma visão catastrofista do mundo é muito mais ingénua do que uma visão que olha para a realidade tal como ela é — e além de ingénua, é perigosa, pois deixamos de ter noção daquilo que podemos perder se quisermos andar para trás.