Ao contrário do que se possa pensar, o basco é hoje uma língua em crescimento — mas sobre esse fenómeno falaremos noutro dia. Para já, queria mostrar este mapa, talvez pouco conhecido em Portugal. São as sete províncias que os nacionalistas bascos consideram parte da sua pátria.
Neste mapa, quanto mais verde estiver uma área, maior a percentagem de falantes do basco. Nas áreas mais escuras, a percentagem é superior a 80%.
As três províncias à esquerda (uma delas tem um buraco no meio, o que é curioso e talvez mereça um artigo um dia destes) constituem o País Basco que todos conhecemos, que é uma comunidade autónoma de Espanha. A província maior, ao meio, é Navarra, uma outra comunidade espanhola, separada do País Basco. As três províncias no canto superior direito são parte de França.
Se o leitor olhar com atenção, verá que há uma província (a que tem o buraco no meio, ou seja, Álava) onde o basco quase desapareceu. O peso da língua está em Guipúscoa (capital: Donostia / San Sebastián), no norte de Navarra e em França… Diz-me quem já lá foi que há aldeias de Guipúscoa onde é difícil encontrar alguém a falar espanhol na rua. Por outro lado, se formos passear para Bilbau, será difícil ouvir alguém a falar em basco, a não ser que entremos numa escola.
Aqui ficam os nomes bascos das sete províncias:
- Bizkaia
- Araba
- Gipuzkoa
- Nafarroa Garaia
- Lapurdi
- Nafarroa Beherea
- Zuberoa
Bem, chega de mapas. Vamos às palavras:
1. Itsaso (mar)
Esta bela palavra engana bem, pois estamos habituados a olhar para o mar e ver por ali a ondear uma só sílaba. Em basco, o mar tem esse som mais picado — e, se há povo marítimo, são os bascos — que chegaram longe nos seus barcos de pesca.
2. Itsasgizonak (marinheiros)
Os marinheiros bascos chamam-se «itsasgizonak» — que significa, literalmente, «homens do mar». Temos «itsaso» (mar), «gizon» (homem) e o «ak» que marca o plural.
Pensará agora o leitor: para um povo de marinheiros, será estranho que nenhum deles seja conhecido. Ora, talvez se lembre dos livros de História que o nosso Fernão de Magalhães tentou dar a volta ao mundo, só que morreu a meio. Quem terminou a viagem foi um tal de Elcano, que também pode ser chamado de Elkano — e era basco… E não foi o único marinheiro basco que andou pelo mundo!
2. Arrantzaleek (pescadores)
Os pescadores bascos aventuraram-se desde muito cedo pelas águas do Atlântico Norte e chegaram bem longe. É possível que tenham arribado às costas americanas ainda antes de Colombo.

Mesmo que não tenham sido os primeiros europeus a pisar aquelas terras, a verdade é que se tornaram presença assídua por aquelas paragens — e surgiu até uma espécie de lingua franca (o pidgin referido neste artigo) que misturava basco com línguas dos nativos americanos. Os nativos americanos usaram, durante muitas gerações, várias palavras bascas.
Estas voltas do mundo são curiosas, não são? Aqueles índios que imaginamos imponentes, em cima do cavalo, à espera dos cowboys, podiam muito bem usar entre eles algumas palavras bascas, aprendidas décadas antes da boca dum pescador na foz do rio São Lourenço. Os Pirenéus em contacto com o Velho Oeste…
Nesta página, encontramos um artigo da Smithsonian Magazine sobre a presença basca na América do Norte.
4. Ur (água)
Se o nome do mar parece, em basco, ter sílabas a mais, a água parece ficar reduzida ao murmúrio duma fonte. Mas isto são impressões dum português a tentar orientar-se no meio de palavras tão estranhas — na verdade, este «ur» é interessante mais por ser tão diferente de todas as águas em seu redor do que por nos soar, por acaso, a murmúrio.

5. Bost (cinco)
No quinto lugar, deixo o próprio número 5.
Se alguém ficou com curiosidade, aqui ficam os dez primeiros números em basco:
- bat
- bi
- hiru
- lau
- bost
- sei
- zazpi
- zortzi
- bederatzi
- hamar

Podia ter optado por outras palavras mais conhecidas — por exemplo, «kale borroka» (luta de rua) ou mesmo a palavra usada para descrever alguns partidos bascos: «abertzale» (uma palavra inventada pelo pai do nacionalismo basco, Sabino Arana, e que significa «patriota»).
Há ainda o próprio nome do País Basco, «Euskal Herria», que se aplica não à comunidade autónoma espanhola (que se chama, em basco, «Euskadi»), mas sim toda a nação basca como entendida pelos nacionalistas, o que inclui as sete províncias que vimos no início.
Podia ainda referir a expressão «ongi etorri» (bem-vindo), que já vi em placas na estrada e dá sempre jeito, ou aquela expressão que tantos aprendem a dizer em muitas línguas: «maite zaitut» (amo-te).
Mas fiquemo-nos, por hoje, por mais esta palavra:
«Agur!» — ou seja, adeus!
No Trebiñu, o euskera chegou a desaparecer á ũus séculos. Mais, dende á ũas décadas, se está recuperando.
E faltou-che a Errioxa, que tamém é considerada por algũus parte da naçom euskera.
Se nom estou n´engano; apenas jogadores nados (e que morassem durante a sua infância e juventude) ou formados nistas regiões (as 7 províncias que comentache + Trebiñu + Errioxa) podem jogar no Athletic Club de Bilbao.
Nom lhe foi nada mal ista política, já que é ũu dos três clubes que jogárom tôdalas edições da liga espanhola (junto co Real Madrid e o Barcelona).
Adorei tanta informação que desconhecia por completo. Obrigada.
Parabéns pelo Blog e por este artigo. Há muitos anos, quando passei por Bilbau, da janela do trem (combóio) achei interessante o nome basco para retrete, traduzido nos cartazes da estação como ” sanitários” (casa de banho). Só me recordo de que existiam pouquíssimas vogais e era um nome bestialmente enorme… Aliás, a própria origem do nome BASCO é muito controvertida, assim também a língua desse povo, que parece – e tudo indica – não ser indo-europeia.
A língua portuguesa e a castelhana, têm pelo menos uma palavra basca no seu vocabulário: esquerda (izquierda). esta palavra deriva do basco ‘ezker’. Tanto é que no latim esquerda dizia-se: ‘sinistrorum’ que evolui no italiano para ‘sinistra’. Sinistro evoluiu no português como uma conotação negativa, alguém que pratica actos anti-cristãos. Os ´canhotos’ ou esquerdinos eram até ao século XX, em Portugal vistos como gente ‘sinistra’ e em muitas escolas obrigava-se, através de práticas que roçavam a tortura, ao uso da mão direita para escrever.
curioso que no francês esquerda diz-se ‘gauche’.
-Bai/ez: Sim/não
-Muito curioso que o euskera mantenha as declinações.
-Também é bem curioso que “eta”para além das sigla da organização armada basca, seja a partícula copulativa “e”, que torna em “ta” perante vogal, como aparece na própria sigla; Euskadi TA Akastasuna (Euskadi e liberdade).
-Nesta popular canção do cantor Urko, Guk esuskaraz, zuk zergatik ez (Nós em euskera, tu por que não?), legendada em basco, observam-se muito bem estas e outras características da língua mais ancestral de Europa: https://youtu.be/mzpyzW3u_wY
“Guk euskaraz
Zuk, zergatik ez?
Euskara putzu sakon
eta ilun bat zen,
eta zuek denok
ur gazi bat
atera zenuzten
handik nekez
Orain zuen birtutez
zuen indarrez
euskara
itsaso urdin
eta zabal
bat izanen da
eta guria da.
Nik eta zuk
egin behar dugu
Euskal Herria
gure buru”
Traducción aproximada al Castellano:
“Nosotros hablamos euskera
Tu, ¿por que no?
El euskera estaba en
un pozo profundo y oscuro,
Y todos vosotros
sacabais agua salada de alli
con gran esfuerzo
Ahora con vuestra virtud
y con vuestra fuerza,
el euskara
sera un mar azul y ancho
y es nuestro.
Tu y yo
debemos hacer de
Euskalherria nuestra
prioridad”
Gostei.Informação que desconhecia.
Muito Obrigada
Maria Barros
No comments…. Adorável!
Gostei muito. Quero aprender mais. Muito interessante!