Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

Cinco maneiras muito ibéricas de dizer “Amo-te!”

Ora, estamos a chegar ao Dia dos Namorados. Há muitas formas de o comemorar. Há quem aposte num jantar a dois, outros pensam num fim-de-semana num qualquer canto dessa velha Europa e há quem imagine programas inconfessáveis em público.

Uma outra ideia será passear um pouco, sem destino, durante dois ou três dias, por essa Península fora, sem horários e sem grandes planos.

Sim, eu sei, há sempre o perigo de passarmos demasiadas horas dentro do carro. Mas pensem numa cidade como a Corunha, ou Sevilha, ou Toledo ou uma qualquer dessas maravilhas que se escondem a poucas horas das nossas fronteiras — e aventurem-se.

Fica a ideia. Para aguçar o apetite, aqui ficam também cinco maneiras de dizer “amo-te” por essa península fora:

Amo-te!

Sim, começamos pelo nosso muito português “amo-te”. Há quem diga que é pouco sonoro, que até os brasileiros nos ganham aos pontos, apesar de falarem a mesma língua (ou, pelo menos, darem o mesmo nome à língua que falam). Não importa. Se não é sonoro, que se diga em sussurro, ao ouvido, que fica tão bem ou ainda melhor do que gritar esta frase que, bem vistas as coisas, é só para dois.

¡Te quiero!

Ora, os nossos amigos do outro lado da raia parecem mais expansivos. Ou talvez seja um estereótipo. Mas lá que exclamam, ¡exclamam! E ¡querem! Ninguém fica com dúvidas desde impulsivo desejo. Vamos lá ceder à tentação da caricatura e imaginemos um português a dizer ao ouvido “amo-te” a uma espanhola, que lhe responde, bem alto, “pois, eu, meu amor, ¡te quiero!, e é já!”

T’estimo!

Os catalães parecem mais carinhosos, mas talvez seja apenas uma ilusão. Também sabem dizer ¡Te quiero!, claro está. Parece haver muita estima por aqueles lados — e também uns apóstrofes engraçados, nessa língua que, às vezes, aos nossos ouvidos, parece estranhamente próxima, mesmo quando as palavras se afastam da Ibéria e se aproximam do outro lado dos Pirenéus, com verbos como “parlar” e “manjar”. Tudo ilusão: são tão (ou tão pouco) ibéricos como nós.

Maite zaitut!

Andámos pelo amar, pelo querer, pelo estimar. E de repente, como uma pedra no charco, cai-nos esta língua basca, que parece antiga — embora, no fundo, seja tão recente como todas as outras, eternamente renovadas em cada novo falante. Olhamos para estas duas palavras e ficamos com um ponto de interrogação na cabeça: onde está o amor, onde estou eu e onde estás tu? Mas fica-nos esta ideia: mesmo nas línguas mais estranhas, há sempre o amor que resiste, porque é comum a todos nós, humanos.

I love you!

Perguntam agora os mais desconfiados: mas o que é isto? Que invasão anglo-saxónica é esta? Ora, não se esqueçam que, escondido ali na ponta sul da península, temos um pedaço britânico, apesar de tal facto não agradar aos nossos vizinhos peninsulares. É certo que, lá por Gibraltar, mais do que inglês, falam llanito, mas que fique aqui registado este tão amor em tons ingleses. Dizem que o inglês britânico é a nova língua do amor e muitos jovens ibéricos lá dirão, aos ouvidos das suas namoradas, “I love you!” E não precisam de estar em Gibraltar…

Ficam outros amores por dizer: amores mirandeses, araneses, asturianos e de todas as outras variedades que nem nome têm. Não fica por dizer em galego, porque um “amo-te”, assim mesmo, serve bem por aquelas paragens.

Obviamente, dedico este post à Zélia, que já teve direito a ouvir muitas destas formas de dizer a mesma coisa. São as agruras de quem casou com um maluquinho das línguas…

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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2 comentários
  • Uma coisa que não posso deixar de notar entre o Pt-Pt e o Pt-Br é que os portugueses utilizam bastante o “c” em palavras como acção entre outras já o brasileiro não usa acção usa-se ação, no Brasil já existiu acção? ou isso é inteiramente português de Portugal?

    Ps: Sou brasileiro e não Português!

  • Certamente, no Brasil, também, já se utilizou o “c” na palavra “acção”, assim como em tantas outras da mesma espécie, visto a língua ser a mesma e ter tido origem em Portugal. Ocorre é que com a evolução da língua (esse ser vivo) e, devido a fatores diversos (clima, situação geográfica, miscigenação de culturas) muitas palavras foram graficamente alteradas, tendo, muitas vezes, a mesma palavra, significado diferente em cada país. Muitas caíram em desuso e foram substituídas por outras. Os acordos ortográficos vieram para legitimar tais mudanças.
    Este é um tema extremamente interessante, rico e encantador, por isso exigiria maior e melhor explanação.
    De qualquer das formas “Amo-te!” ou “Te amo!” soa tão bem aos ouvidos e, principalmente ao coração. 🙂

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