Ósculo
Provavelmente, esta palavra não está a morrer: já morreu. Muitas pessoas já nem saberão o que quer dizer — e não me parece que alguém chore por esta morte, pois é um pouco estranho misturar a ideia dum beijo com uma palavra que lembra algum tipo de bicho estranho.
Deveras
Será ainda uma sobrevivente em certos discursos mais inflamados ou em paródias dum estilo antigo. Mas na vida do dia-a-dia não há quem diga “deveras”. Pelo menos sem que outros torçam o nariz a esta palavra com ar de outros tempos.
Cassete
Não morreu, mas está muito velhinha: uma palavra que ainda há poucos anos andava nas bocas do mundo… É bem provável que, muito em breve, siglas como CD, DVD e outros que tais se juntem à cassete nesse lar da terceira idade das palavras.
Obséquio
Uma palavra galante, mas cada vez mais rara. Ainda soa bem e não deixa de ter a sua graça, mas ninguém a ouve por essas ruas fora. Mas tiremos-lhe o chapéu, que merece o nosso apreço.
Cosmonauta
Nestes tempos em que a Rússia está mais interessada nas Crimeias desta vida do que na conquista do espaço, já poucos se lembrarão que os astronautas, por aquelas bandas, são cosmonautas. Nunca se sabe se não será esta uma palavra a ressuscitar muito em breve. Por enquanto, talvez seja bom recordar que um astronauta chinês é um taikonauta.
Conhecem mais palavras que estejam a morrer?
Dou um ósculo a quem deveras me obsequiar com a destruição da cassete dos cosmonautas a caminho da lua. O bom Moraes não reconhece a existência na língua de nenhuma cassete e de cosmonautas nada sabia, por isso bem se dispensam. Agora deixar de deveras obsequiar com molhados ósculos a língua poertuguesa, isso nunca.
Acontece que eu ainda conservo inúmeras cassetes, que oferecerei aos astronautas que deveras se dignem fazer o obséquio de me relatar as fascinantes histórias das suas fantásticas viagens e dos inúmeros ósculos que certamente receberam aquando do seu regresso. 😉
Infelizmente, outra linda palavra portuguesa que está caindo em desuso é o verbo “soer”, derivado do latim “solere”; vale notar que, além de soar como um termo elegante e erudito, apresenta a vantagem de ser mais curto e prático que seu sinônimo de uso mais comum: “costumar”.
Na Galiza, o verbo “soer” tem certo uso; mais adoita considerar-se uã influência do castelão. Por isso, usámolo verbo “adoitar”.
Deveras complicada esta nossa língua, mas por isso mesmo muito rica também! Ainda uso o “deveras” com muita frequência, assim como o “obséquio”. Já o “ósculo” não, soa-me muito a osga e a algo viscoso ( o que por vezes até corresponde à realidade)!!!! Confesso que o verbo “soer” , apontado num dos comentários, me era até agora totalmente desconhecido!
Apanágio
Cordato
Pois eu a única palavra que desconhecia era “ósculo”. E penso que a única extinta antre os galegos. O resto estám-che bem vivas.