Não me lembro de algum terrorista matar por ter dúvidas; os terroristas matam por causa das suas certezas.
Há pouca coisa que una os terroristas uns aos outros: o que terá um etarra a ver com um islamita radical? O que têm em comum é a confiança cega em certezas absolutas: a certeza de que o deus da sua religião particular exige sacrifícios, a certeza de que sabem qual é o sistema político ideal, a certeza de que são vítimas duma conspiração global, a certeza de que a sua nação deve ser independente, mesmo que tal exija matar. As certezas são tão inebriantes que nos levam a matar sem pestanejar.
Por isso, não é mau princípio ter dúvidas. Não digo com isto que a verdade seja relativa (uma coisa é a verdade, outra coisa são as nossas ideias sobre o que é a verdade). Haverá verdades, mas será possível ter certezas absolutas sobre o que são essas verdades?
Certamente podemos ter um grau de confiança muito elevado sobre certos factos: estou praticamente convencido que a Terra não está no centro do universo; não me parece razoável defender que que o mundo foi criado há 6000 anos; e por aí fora. Mas essas certezas quase absolutas nunca merecem o uso da nossa capacidade de matar.
Por outro lado, num mundo em que todos andamos à procura de tanta coisa, em que todos temos dúvidas — e devíamos ter mais dúvidas — temos de encontrar formas de viver em conjunto, de nos respeitarmos, de saber o que fazer num mundo tão incerto. Temos também de encontrar forma de lidar com o pesadelo que são as pessoas com demasiadas certezas.
É também para isso que serve este blogue: não só para tentar perceber um pouco melhor o mundo, como é próprio de qualquer mente curiosa, como também para procurar formas de viver com a incerteza — e com as certezas dos outros.