A chuva irrita — principalmente quando temos de pôr o filho no carro à chuva e não temos braços que cheguem para tudo. Ou quando estamos no trânsito e passamos duas horas a ouvir as mesmas músicas nas mesmas rádios. Ou quando estamos desprevenidos e ficamos molhados que nem um pinto. Mas também há certos prazeres muito próprios dos dias de chuva. Aqui ficam dez. Deixo os mais secretos para o fim.
- Fazer um piquenique à lareira. Imaginem uma manta, frutos secos, bom vinho, o fogo a crepitar, a conversa e os risos, aquela sensação agradável de conforto e paz. E, lá fora, a chuva bate levemente no vidro da janela.
- Brincar em família. Sim, estar em casa, com brinquedos à volta, a imaginar universos alternativos ou então mascarados de piratas e outras fantasias. Ou apenas sentados a contar histórias ou a ler um livro em voz alta…
- Olhar para a cidade à chuva. À janela ou protegido da chuva, na rua. Ver os carros a passar, o risco dos pneus na água, as pessoas com os chapéus de chuva, a clareza das ruas sem o brilho do sol. Ou então, estar a conduzir e ver as luzes dos carros a dissolverem-se nas gotas até passar o limpa-pára-brisas.
- Sentir o cheiro da terra molhada. Sim, é quase um lugar-comum. Mas é também um dos grandes prazeres da vida. Tal como também o é ter a sorte de ouvir a chuva a bater no telhado duma casa no campo.
- Ler. No sofá, ou na cama. Com a chuva ao fundo, claro. O mundo está frio e não apetece sair, mas num livro encontramos os mundos todos de que precisamos.
- Trabalhar em sossego. Em frente ao computador com uma caneca de chá ou café à frente, a fumegar, o calor da casa a envolver-nos e a sensação de que até nos apetece trabalhar um pouco, pois o sol não chama e a chuva é um inventivo.
- Ver um filme. Com uma manta a tapar as pernas. Encostados um ao outro. Ou com o filho no meio. E uma história que nos prenda, de preferência. Ou então pegar numa série e, num qualquer sábado à tarde de Outono, ver tudo, do primeiro ao último episódio.
- Namorar à chuva. Agarrados debaixo do chapéu. Ou, se não tivermos chapéu, correr à procura de abrigo, enquanto nos rimos os dois… E depois, a arfar do esforço, bochechas rosadas do calor da corrida, a adrenalina no sangue, a pele salpicada, o sorriso nos olhos e um beijo. Mas isso já sou eu a imaginar enredos.
- Estar na cama e a chuva lá fora. Claro: alguns diriam que é o grande prazer. Ficar abraçados no quente dos lençóis. Em silêncio ou nem por isso.
- E, por fim, adormecer. Agarrados, ao som sereno da chuva a bater nos vidros da janela.