Ora, sim: há uns tempos usei a palavra «dica» e levei com um furibundo comentador a acusar-me de maltratar a nossa pobre língua. Não, não, dizia ele, essa palavra não pode ser. Tem uma origem suspeita.
Ora, eu, na minha inocência, sempre usei a palavra «dica», que me parece leve e despachada, mais adequada ao estilo que queria dar àquele texto do que a mais pesada «sugestão» ou «indicação». Encolhi os ombros e deixei estar a palavra. O comentador insultou-me e seguiu para outra freguesia.
Temos de ter cuidado, claro está. Convém andar sempre a calibrar o estilo dos textos, a tentar compreender aquilo que as palavras provocam na cabeça dos leitores. Às vezes, é um jogo de adivinha. E às vezes temos de morder a língua: até eu, que sou acérrimo defensor da palavra «o comer», sei que não a posso usar em todas as situações, porque todos temos os nossos macaquinhos na cabeça e temos de ter algum respeito pelos macaquinhos dos outros.
Mas, enfim, se não pudermos usar uma palavra porque irrita esta ou aquela pessoa, vamos ficar calados para todo o sempre: não há palavras inocentes, todas as palavras desassossegam alguém. Por isso, neste caso, aqui fica a dica: não tenha medo da palavra «dica». Todos sabemos o que quer dizer e ninguém perde nada com esta leve palavrinha.