Hoje apetece-me começar uma nova secção neste blogue. O título será apenas e só «Comunicação». No fundo, é um dos grandes temas aqui da casa. Mesmo quando falo da língua — que é o grande tema destas paragens — há muitos casos em que estou a falar da nossa capacidade de comunicar (ou da falta dela, claro).
Ora, já todos sentimos como é difícil comunicar: no Facebook, por correio electrónico… Quantas vezes não sentimos dificuldade em nos fazermos entender, em evitar mal-entendidos, em fugir dos conflitos? Andamos sempre aos tropeções.
Na verdade, nós somos muito bons a comunicar uns com os outros: basta pensar nas vezes que conversamos entre gente amiga, em tudo o que dizemos só com as mãos, na forma como um simples sorriso ou entoação transmite emoções e informação que frases inteiras num livro não conseguem expressar nem à força de muito talento.
A grande dificuldade está na comunicação à distância, quando não estamos presentes, com o nosso corpo, a nossa cara, as nossas mãos, até mesmo o nosso cheiro humano.
Temos, para começar, a escrita. A escrita é um acrescento muito recente à nossa capacidade de comunicação. Ainda não passaram assim tantos milhares de anos desde que alguém inventou essa forma de registar o que dizemos na pedra, na madeira, em argila…
Antes disso tínhamos vivido milhares e milhares de anos a conversar em pequenos grupos tribais — e é nisso que somos bons: nas conversas de almofada, na conversa entre amigos, nos risos e piscadelas de olho, nas conversas entre caçadores atrás duma presa (ou seja, a tentar resolver problemas no momento).
Ora, na escrita não temos o corpo das outras pessoas; não temos a possibilidade de avaliar se quem nos ouve está a perceber ou não; falta-nos a nossa própria cara a pintar as palavras com a emoção certa. Torna-se tudo mais difícil.
Depois, mesmo quando usamos a nossa própria voz podemos ter dificuldades se o fizermos à distância. É mais difícil falar ao telefone do que ao vivo (na minha humilde opinião, é ainda mais difícil do que por escrito, pois continuamos a não estar presentes e ainda temos o problema de nos faltar a possibilidade de pensar e rever).
E comunicar nas redes sociais? Um sarilho, se virmos bem. E na rádio e televisão? Também não é fácil.
A vantagem de comunicar por escrito, por telefone ou por outro destes meios mais difíceis é esta: reduzimos a distância, aumentamos as nossas oportunidades de chegar aos outros, falamos mais vezes com amigos (e menos amigos), tornamo-nos parte de grupos maiores do que as tribos ancestrais.
As vantagens são muitas, mas os perigos também não são poucos. É disso que falarei nesta secção — o que não deixa de ser uma continuação do que tenho feito neste blogue nos últimos anos. (Ah, sim, há ainda aquele pormenor da identidade, o outro grande tema do blogue. Mas, talvez, esse tema não esteja assim tão distante destes assuntos.)
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