Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

Se temos dois olhos, porque não vemos tudo a dobrar?

Estava eu sossegado à beira da piscina, quando oiço um miúdo a fazer uma pergunta aos pais. Os pais encolheram os ombros, riram-se, apontaram para a piscina, como que a dizer «não queres ir dar um mergulho?» O miúdo não desarmou. Queria saber por que razão, se temos dois olhos, não vemos tudo a dobrar. E ali ficou a insistir, a insistir, até que o pai se riu, deu-lhe uma festa no cabelo e disse «vá, pára lá com as perguntas inconvenientes». O miúdo riu-se, orgulhoso e feliz. Tinha conseguido encontrar uma pergunta a que os pais não sabiam responder. Lá deixou o assunto de parte e deu um mergulho, para alívio dos progenitores.

Ali a olhar para a água a fingir-me desatento, apetecia-me pôr o dedo no ar e dizer «eu sei, eu sei!». Mas, não, não me armei em Hermione. Deixei o miúdo feliz por ter conseguido atrapalhar os pais.

É que, na verdade, nós vemos a dobrar! Basta entortar um pouco os olhos para perceber isso mesmo. O que se passa é que o nosso cérebro pega nas duas imagens separadas que recebe dos dois olhos e cria uma só imagem a três dimensões. Basta pensarmos que, no cinema a 3D, o truque daqueles óculos é levar a que cada olho receba uma imagem ligeiramente diferente, para que depois o cérebro reconstitua a imagem a 3D.

Se fecharmos um dos olhos, a imagem passa a duas dimensões… Não vale a pena fazer isso agora, porque o cérebro consegue reconstruir as três dimensões em cenários que já conhece. Mas se alguém puser uma venda na cabeça do meu caro leitor e o largar numa cidade desconhecida e se, quando por fim alguém lhe tirar a venda, abrir só um dos olhos — aí sim, terá à sua frente o mundo a duas dimensões.

Mas, vá por mim, não faça isso.

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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4 comentários
      • Pra mim, isse conceito é impossível d´entender. Os objetos seguem tendo altura, profundidade e largura.
        Talvez averia que perguntar ò apresentador diste programa da televisom:

  • Bom, estivem a pesquisar; e penso que achei a soluçom; máis ou menos.
    Primeiro, a combinaçom d´images dos dous olhos é a estereopsia. Ora bem, isto pouco tem a ver coas dimensões. Digamos que aumenta o desempenho do nosso cérebro pra perceber a realidade e as suas dimensões, e dota dum maior campo visual. Peró isso nom significa que as pessoas “ciclopes” lhes falte ũa dimensom. Melhor dito, talvez si que lhes falta òs seus olhos, peró nom ò seu cérebro. Explico. Se tu naceres com 2 olhos, coma calquer pessoa normal, as images que cheguem ò teu cérebro deveriam chegar com estereopsia. Ista capacidade desenvolve-se durante a infância. Por isso, inda que depois te quitem um olho e te deixem tirado no Amazônia; seguirás vendo as dimensões coma se tivesses dous olhos, pois o teu cérebro já desenvolveu issa capacidade. Simplesmente, ũa pessoa “normal” (o normal é relativo) nom pode imaginar como seria o mundo sem issa dimensom; ó igual que nom pode saber como vê um daltônico, como sonha um cego ou um surdo, que cores existem no espetro infravermelho ou ultravioleta…
    E, segundo, a realidade é que nom vemos em três dimensões. Vemos em duas dimensões e meia (2,5D). Deixarei ũas ligações, peró vou traduzir algũus comentários disses artigos:

    “Digamos que nós, os umãos, vemos 2 dimensões (ũa image bidimensional, coma ũa foto) peró somos quem d´estimar máis ou menos a que distância de nós estám os objetos, sendo ista distância parte da terceira dimensom.

    Poderíamos dizer que vemos em 2 dimensiones e meia. Ũa visom realmente 3D contemplaria, por exemplo, poder ver detrás dos obstáculos. Em vez dũa image bidimensional com informaçom da profundidade, ũa visom 3D seria como poder observar um modelo 3D com total liberdade, sem que nengũa parte ficasse oculta.”

    “Nengum animal que eu conheça tem ũa visom 3D. Pra atoparmos ũa visom 3D real, á que procurarmos n´aparelhos coma o TAC, que podem “ver” tôdolos pontos (mesmo os interiores) dum volume dado.”

    Em conclusom, a vista dos umãos é moi deficiente. Nom conseguimos ver tam longe como o fai um falcom, estamos cativos num espetro moi limitado e nom somos quem nem d´enxergar três dimensões espaciais. Tomara cando substituamos partes do nosso corpo (ou praticamente o corpo inteiro) por partes robóticas, possamos solucionar istes probremas. Inda que tamém averia máis soluções, mais nengũa odierna; porque a tecnologia avança moi devagar.
    Ora bem, talvez possamos aumentar as nossas capacidades visuais; peró outra cousa é que o nosso cérebro se consiga adaptar… Quiçais, somente as crianças poderiam aproveitar ò 100% issa nova capacidade… Ou pode que nom.

    https://www.xatakaciencia.com/respuestas/vemos-en-2d-o-en-3d
    https://ocularis.es/la-vision-tridimensional/
    https://ocularis.es/la-vision-en-los-animales-i-halcones/
    http://es.gizmodo.com/los-cientificos-que-lograron-ver-a-traves-de-los-ojos-d-1767934881
    http://es.gizmodo.com/el-cientifico-que-veia-el-mundo-plano-hasta-que-vio-una-1762348897

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