Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

O dia em que escrevi n’Os Lusíadas

Julgo que já aqui falei da forma como os livros nos transportam no tempo, para quando os lemos pela primeira vez, ou quando os comprámos, folheámos ou passámos a vista por cima. Pois este livro transporta-me para uns bons 30 anos atrás…

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Esta é uma edição d’Os Lusíadas que a minha mãe tem em casa desde de que nasci. Uma edição do Círculo de Leitores, de 1972, com introdução de Hernâni Cidade.

Esta é a minha edição d’Os Lusíadas. Cresci com ela. Folheei o livro, tentei ler (cedo de mais), e cedo me deu a vontade de escrever armado em Luís Vaz.

Aqui está a prova do crime (ao meu filho, felizmente, ainda não lhe deu para isto):

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Isto quando tinha uns 4 ou 5 anos. Tenho memórias muito antigas, de estar a escrevinhar no livro, com os móveis da casa dos meus pais dessa altura à minha volta, talvez de língua entre os lábios, embrenhado nesta minha obra.

Anos depois, comecei a procurar o famoso Canto IX. As figuras eram lindas:

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Já agora, fiquem com estes dois pormenores. O texto da Inquisição…

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… e as duas primeiras estrofes, que aparecem limpas, sem a parvoíce de algumas edições escolares, que colocam em itálico as palavras que contêm aquilo que as normas actuais considerariam erros.

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Enfim, lembro-me também de perguntar à minha mãe o que era aquele livro e de ela me explicar que era um grande poema que contava os feitos dos Portugueses nos Descobrimentos e, pelo meio, a história do país desde a fundação…

Sobre isso, haveria de ouvir falar muito, claro, mas o encanto desta edição nunca desapareceu, mesmo nos momentos mais sombrios de esquemas e planos da viagem e da história e não sei que mais. Para mim, era uma história, acima de tudo, de aventuras e de barcos que se faziam à água à procura de mostrengos que estão no fim do mar (sim, eu sei, isso já são outras mensagens).

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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3 comentários
  • Por curiosidade apenas, um tio meu, por volta dos anos 20 (do século passado, claro), acrescentou uma última estrofe no exemplar da minha mãe, o que nos deixou a todos os que leram e estudaram por esse mesmo exemplar de “Os Lusíadas” bem divertidos com a sua ousadia.

    • Isabel Belo

      O que disseste foi muito pouco.
      Não poderias mostrar-nos a estrfe acrescentada pelo teu tio?

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