Algumas leituras muito apressadas dos artigos que publiquei ontem podem levar a pensar que acredito estar tudo bem com a língua e que nada há a fazer para defender o português.
Ora, não foi nada disso que eu disse: estou preocupado com a língua. Mas estar preocupado com a língua não implica engolir o discurso catastrofista sem reflexão.
Afinal, será falso dizer que nunca tanta gente usou o português-padrão como hoje em dia?
É errado acreditar que há 100 anos toda a população falava e escrevia melhor do que hoje. Todos sabemos que o analfabetismo diminuiu e, além disso, o uso do padrão está mais espalhado por todo o país e por todas as classes sociais.
Só que ainda estamos longe de estar onde gostaríamos de estar — tão simples quanto isso. Tanto é assim que, exactamente por haver tanta gente a tentar usar o padrão, há muito trabalho a fazer. Há muitos alunos com dificuldades, muitas pessoas que querem aprender — e a todos nós cabe a tarefa de tentar escrever melhor todos os dias.
Um discurso sereno não tem de ser menos exigente. Antes pelo contrário: evitar tanto os simplismos optimistas como os pessimistas é mais difícil do que embarcar no pânico habitual.
Aliás, menos pânico só nos ajuda a trabalhar melhor, sem o desalento de quem crê estar a viver no meio de um incêndio sem fim à vista.
Será assim tão absurdo acreditar que estamos pior do que gostaríamos, mas melhor do que já estivemos?
Sem dúvida , estamos melhor do que já estivemos, pois o analfabetismo diminuiu, mas isso não quer dizer que esteja tudo bem. Confronto-me, bastas vezes, com a má utilização do presente do conjuntivo dos verbos, em que as pessoas põem a tónica na sílaba errada, pr exemplo, na 1. pessoa do plural acentuam como esdrúxula a forma façamos, digamos, vivamos e por aí adiante. Devem ter aversão à flexão verbal, ou, simplesmente, por ignorância.
É isso mesmo que o artigo tenta explicar: não está tudo bem — mas já estivemos pior.
E que dizer do criminoso “acordo”? Um falso acordo, que não normaliza a Língua, que não deixa a Língua ser viva com as suas variantes, que cria novas palavras quando antes eram de igual grafia (aquém e além-mar), que tolera duplas e triplas facultatividade, tendo como Norma a Oralidade em detrimento da Etimologia. Há que perguntar, qual Oralidade? A do Norte, a do Sul , Leste, Madeira, Açores, Rio de Janeiro, Bahia ou Rio Grande do Sul, Angolana, a minha ou a tua???
Parem com este Linguicídio!
Um “acordo” que ninguém pediu, inútil, que falha no seu propósito da normalização da Língua e que, dada a confusão de oralidades, acabou por criar um “mixordês” nunca antes visto, devassando a Língua. Um “acordo” que o não é, porque ainda não ratificado por todos e que à luz do Tratado de Viena O Tratado que rege os Tratados Internacionais), e por não ser unanimente ratificado, é ilegal.
Cara Glória, muito obrigado pelo seu comentário!
“Linguicídio”? O que é? É um assassinato cometido com uma linguiça? Essa eu não vi no Aulete e nem no Houaiss! Mais uma palavra pro meu vocabulário, pra enriquecer a minha pobre língua brasileira.
Parabéns pelo excelente Blog!