(Deixem-me deixar aqui um aviso para ninguém apanhar um susto: este artigo contém um palavrão.)
Sempre a querer saber o que o rapaz anda a aprender, perguntei ao Simão se lá na escola já tinha ouvido palavras feias. E ele disse que sim: chichi, cocó, pilinha, pipi, totó. Ora, cá estão eles todos, vários palavrões em semente: os fluidos corporais, os órgãos sexuais, os insultos. Mas do chichi ao totó, não vi ali nada para atrapalhar os pais em público. Suspirei fundo, aliviado.
Pois bem, pior foi ontem quando ele disse:
— Pai, queres ouvir uma palavra feia?
— Diz lá — e fiquei à espera dum totó, dum pipi, dum chichi.
Vai ele e diz, inocente, «puta».
Eu de olhos arregalados fiz-lhe esta pergunta inteligentíssima: «hã?»
Lá me compus e informei com cara séria que a palavra é muito feia e não se pode dizer. E ele, a sorrir sem mal, pergunta simplesmente: «qual palavra?»
Já estava noutra.
E pronto, pensei. Tinha de acontecer, mais tarde ou mais cedo, e podia ser pior. Mas lembrei-me então de como os palavrões são engraçados. Temos de fazer cara feia e ralhar. Mas todos sabemos que ninguém deixa de mandar um bom palavrão mais tarde ou mais cedo — e que, aliás, até aliviam! (Já por aqui falámos disso, lembram-se?)
Ou seja, nenhum de nós acredita que os palavrões fazem mal, mas ralhamos com os filhos quando eles se descaem com um — os palavrões dizem-se, mas não se podem dizer. Não se podem dizer, mas dizem-se…
Todos os dissemos e ainda dizemos alguns, talvez mais subtilmente, mas dizemos.
A minha filha, aos três meses de segundo ano na escola básica, aparece em casa com a palavra ‘f’ (sim, em inglês).
Aparentemente, existe uma canção que uma amiguinha cantarolou na escola e que acabou por agradar também à minha filha.
E pronto, lá tivemos que explicar que essa palavra, mesmo sendo ‘estrangeira’, não se pode dizer…
Apetece dizer f… (em português)
Bonito artigo
Muito agradável de ler. Todos os pais já passaram por situações idênticas, mas quando, como é o meu caso, já lá vão perto de quarenta anos, este artigo é uma delícia que me fez sorrir e recordar. Bem haja.
Uma forma por vezes oportuna,de expandir certos sentimentos fruto de certas situações menos agradáveis.