Nestas coisas da língua e da linguagem, convém dizer que o mundo se divide entre aqueles que gostam da linguagem e do prazer das palavras e das línguas — e aqueles que dizem gostar da língua só para mostrar como são melhores do que os outros.
É a diferença entre a figura protagonizada por “Weird Al” Yankovic nesta sátira a quem está sempre a reparar nos erros linguísticos dos outros (e acha que isso é razão para os atirar para fora da “gene pool”)…
… e aqueles que gostam da linguagem doutra forma, mais carnal e menos policial, como é o caso de Stephen Fry:
Sim, o vídeo de Weird Al Yankovic parece mais divertido, mas verdadeiramente interessante é o do Stephen Fry. Porquê? Porque os erros apontados por Weird Al Yankovic são pequenas migalhas linguísticas (alguns nem sequer são erros). Há quem se concentre nisso, porque não quer ter o trabalho de perceber, de facto, o que são as línguas e o espanto que é a linguagem humana. É mais complicado e exige mais trabalho lidar com um sincero amor à linguagem e sentir verdadeira curiosidade intelectual sobre como funcionam as línguas humanas — é muito diferente de andar a apontar o dedo a quem não cumpre algumas regras de etiqueta linguística. Mas é esse amor e essa curiosidade aquilo que transparece do vídeo do Stephen Fry.
Já agora, querem uma sugestão de leitura?
Ora bem, fiquem com um livro dum amante da linguagem (e, neste caso, da língua inglesa), um autor como há poucos, alguém que praticamente inventou uma nova língua em A Clockwork Orange. Exacto: Anthony Burgess. O livro é este:
Anthony Burgess, A Mouthful of Air, Hutchinson, 1992.
Não conheço tradução em português (e seria difícil, tendo em conta o tema), mas aconselho vivamente a sua leitura a quem gosta de línguas e de linguagem. Não é, claro está, um linguista profissional, mas um praticante (digamos assim) que gosta de saber mais sobre como funciona a linguagem que usa na sua obra. É delicioso (como, aliás, todos os livros de Burgess).