Ando a ler O Pequeno Livro do Grande Terramoto por uma razão muito concreta que vos hei-de contar daqui a uns tempos. Já tinha lido o livro há uns anos, com grande proveito, e agora preciso de o reler, para me embrenhar na época.
A certa altura, Rui Tavares lembra-nos que aquilo que se disse do terramoto, na altura, por essa Europa fora, nem sempre era muito realista (digamos assim). Quem conta um conto acrescenta um ponto e quem conta um terramoto acrescenta um morto — ou uns bons milhares de mortos.
Ora, lembrei-me imediatamente dum episódio que se passou comigo em Barcelona, há muitos anos, quando em amena cavaqueira com um catalão, que me mostrava fotos duma viagem que fizera a Lisboa, ele me vem com esta, perante uma fotografia do Mosteiro dos Jerónimos: «Bem, isto foi antes do incêndio…»
Eu, intrigado com esse tal incêndio que destruíra os Jerónimos, perguntei do que é que ele estava a falar. E ele, intrigado com o português que nunca ouvira falar do grande fogo, disse-me: «Ora, o incêndio de 1988!».
E eu: «Ah! Esse!»
Digamos que nós, portugueses, reconstruímos os Jerónimos enquanto um diabo esfrega o olho. (Já o mesmo não se pode dizer do Chiado, que bem demorou.)
Vá, não sejamos mauzinhos. Afinal, o tal catalão sabia que tinha havido um incêndio em Lisboa (e em 1988!). Não é coisa pouca. Que não soubesse a exacta geografia do incêndio parece-me bastante desculpável. E, digo-vos, ele sabia muito mais de Portugal do que esperaríamos, sempre convencidos como estamos que o mundo não nos liga nenhuma…