Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

As línguas dos Jogos Olímpicos

Tenho um fraquinho pelas cerimónias de abertura dos Jogos Olímpicos. Sim, eu sei, é um fraquinho pouco recomendável, tendo em conta que são festivais de megalomania. Mas lembro-me bem de assistir às várias cerimónias na televisão e essas são daquelas memórias que marcam a passagem dos anos.

Ainda me lembro de ver, com 11 anos, a cerimónia de abertura dos jogos de Barcelona e de ficar pasmado com tudo aquilo — e com a seta de Antonio Rebollo a acender a pira olímpica. Foi nessa cerimónia que conheci a música de Ryuichi Sakamoto. Ainda hoje vale a pena rever…

sex-pistols_0Depois, há cerimónias surpreendentes: há quatro anos, a abertura dos jogos de Londres foi realizada por Danny Boyle e o resultado foi magnífico — desde a rainha a participar num filme de James Bond, à participação de J. K. Rowling e Mr. Bean, com uma excelente apresentação de alguma história britânica, com muita música e muito riso. Também foi uma oportunidade única de ver Isabel II a ouvir Sex Pistols…

Pois, amanhã será a vez do Rio. Veremos como corre.


Peço-vos agora, como não podia deixar de ser, para repararem nas línguas oficiais dos jogos. São sempre o francês, o inglês — e a língua oficial da cidade.

Ora, parece simples, certo? Mais ou menos. Em 1992, a língua oficial não era uma, mas sim duas — e o catalão lá aparecia ao lado do espanhol, do inglês e do francês. Sim: quatro línguas!

Já em Atlanta, por exemplo, as línguas oficiais eram apenas o francês e o inglês, claro — e foi estranho ouvir os altifalantes dos estádios da Georgia a debitar francês.

Reparem ainda na ordem de entrada dos países: costuma ser por ordem alfabética na língua oficial. Há excepções: em 1992, para não terem de escolher entre o catalão e o espanhol, a ordem escolhida foi a do francês.

rio-1512643_640Amanhã, pela primeira vez, teremos a entrada por ordem alfabética em português. Diga-se que a ordem alfabética tem duas excepções: a Grécia (que entra em primeiro) e o Brasil (que, por ser o país organizador, entra em último).

Agora, para lá das línguas oficiais, os jogos olímpicos também juntam milhares de atletas de todo o mundo num espaço pequeno. Temos aí línguas sem fim — mas parece ser tradição que essas barreiras não impeçam o convívio entre todos. Aliás, se há coisa em que todos os organizadores dos jogos têm de se preocupar é na distribuição em massa de preservativos. Milhares de jovens atletas, muita adrenalina, muito calor… Queriam o quê? Que passassem o tempo a jogar Solitário?

Bons Jogos! (E uma ou outra medalha para Portugal — o que dizem?)

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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2 comentários
  • Das cerimónias que vi, a mais espectacular foi a de Beijing. E Londres fez muito bem em não tentar bater a espectacularidade chinesa, ‘diminuindo’ essa espectacularidade com uma cerimónia mais centrada em história e histórias.

  • Muito bem, meu amigo. Agora conte-me o que achou da abertura dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.

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