O meu sobrinho Martim é um rapaz cheio de genica e pouco interessado em discussões filosóficas. Quer é brincar, o que se aconselha aos sete anos.
Pois, hoje, quando o fui buscar à escola, decidiu presentear-me com as seguintes perguntas:
«Tio, “incisivo” tem três “ii”?»
A minha resposta, depois de rever mentalmente a palavra: «sim».
Fiquei com a pulga atrás da orelha. Donde viria a pergunta?
Segunda pergunta:
«Tio, “otorrinolaringologista” tem três “ii”?»
Aqui, ia-me engasgando. Primeiro, porque ele disse a palavra sem pestanejar nem hesitar. Depois, porque na idade dele eu ainda nem sabia dizer bem os «rr», quanto mais «otorrinolaringologista». Por fim, engasguei-me porque precisei de algum tempo para contar os «ii» à palavra.
Fiz-lhe uma pergunta:
«Como é que sabes dizer isso tão bem?»
«Ora, tio, é tão fácil como dizer “pipapapígrafo”.»
Ah, bom. Sendo assim, está bem.
Continuo com a pulga atrás da orelha, porque entretanto ele foi para o futebol e não me explicou donde vem esta repentina obsessão com o número de «ii» das palavras difíceis.
Não tenho sobrinhos, mas tivesse gostaria que fossem como o Martim.