Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

Os erros falsos de português

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Ontem publiquei por aqui o «Pequeno Dicionário de Erros Falsos de Português». É uma página fixa do blogue, que será actualizada ao longo do tempo. Espero que gostem e vos seja útil.

Nesta primeira versão, falo de «a gente», «copo de água», «falem mais alto», «fazer a barba», «espaço de tempo», «não há nada», «pelos vistos», «queria um café», «saudades tuas». Ficam a faltar muitos, eu sei…

A página inclui ainda perguntas e respostas sobre o tema. Aqui está um exemplo:

«O que são erros falsos?»

São construções ou palavras que uma grande maioria de falantes usa em situações perfeitamente adequadas e, mesmo assim, são condenadas por algumas pessoas, com base em justificações que pouco têm que ver com o funcionamento da língua.

Os erros falsos podem também ser chamados de «hipercorrecções». As hipercorrecções aparecem, em geral, por desconhecimento do funcionamento da língua e também por razões de insegurança linguística.

Mais uma das perguntas:

«Qual é o problema destes erros? Faz algum mal condená-los?»

O combate que algumas pessoas fazem a estas expressões tem consequências negativas para os falantes do português: diminui a expressividade da língua e as opções que temos ao nosso dispor e, se acabar por criar uma verdadeira resistência à expressão entre os falantes cuidadosos, leva a um maior afastamento entre a norma e o uso, com consequente reforço de preconceitos sociais inúteis. Para além disso, é uma forma simplista de encarar o português.

Evitar estes erros falsos não serve para falar de forma mais clara nem mais expressiva, e decorá-los à força dá-nos a falsa sensação de estarmos a aprender a escrever melhor, quando no fundo estamos apenas a decorar superstições da língua.

Estes mitos da língua só nos atrapalham, fazem-nos perder tempo e deixam-nos mais confusos sobre como melhorar o nosso uso da língua. Falar e escrever melhor é muito mais difícil do que decorar esta ou aquela irritação pessoal.

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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2 comentários
  • Caro Marco Neves,

    Você já considera como pertencente à categoria de erros falsos de português a mistura entre o pronome pessoal da segunda pessoa do plural e as formas verbais da terceira pessoa do plural?

    Imagino que sim, pois me parece já terem sido normalizadas, em português europeu, seja na fala, seja na escrita, construções como esta que há no seu artigo: “Espero que GOSTEM e VOS seja útil.”

    No Brasil, empregamos o pronome pessoal da segunda pessoa do singular com as formas verbais da terceira pessoa do singular, mas não em todas as situações em que essa mistura ocorreria, no plural, em português europeu. Por exemplo: embora, em todo o Brasil, se use o pronome de tratamento “você” com o pronome oblíquo “te” (ninguém usa “lhe” na fala espontânea), junta-se “você” ao possessivo “teu” apenas em algumas regiões.

    • Tanto tempo depois, encontro este seu comentário. Sim, neste momento, acho que a mistura é a maneira como a língua funciona em Portugal. Muitos torcem o nariz, mas se eu estiver numa sala e quiser que todos se sentem, digo: “Voltem aos vossos lugares”. O “voltem aos seus lugares” já não parece ter a a mesma força.

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