Uma das principais tradições portuguesas deste dia é ter muita gente a gritar por aí que esta é uma «tradição importada». Não é portuguesa. Logo, vestir os miúdos de monstros e bruxas é coisa de quem não pensa no que faz. De quem se vendeu irremediavelmente ao imperialismo norte-americano. Que susto!
Acalmem lá os vossos corações indignados. Afinal, importar tradições alheias é uma bela tradição portuguesa…
Presumo que esta nossa nova tradição tenha começado quando os professores de inglês, sem pensarem duas vezes, começaram a organizar festas de Halloween para mostrar aos miúdos a cultura por trás da língua que ensinam, o que é um objectivo muito louvável.
Ora, acontece que os miúdos, sempre virados para a brincadeira, começaram a gostar dessas festas e, sem pensar duas vezes, importaram a tradição. Porquê? Porque é gira!
Reparem que não estiveram cá marines norte-americanos com armas apontadas a gritar: «COMEÇA JÁ A CELEBRAR O HALLOWEEN, DUDE!» Não, foi tudo muito voluntário. Tudo inocente.
Nós também já exportámos algumas tradições e ninguém se importa. Ficamos até comovidos por ver outros povos com palavras nossas na boca ou a seguir esta ou aquela tradição lusitana. Gostamos de ver calçada portuguesa nas ruas de Macau, por exemplo. Ou de encontrar vestígios da História Portuguesa por esse mundo fora.
Por isso, descontraiam-se. As tradições emprestam-se e devolvem-se e trocam-se e misturam-se e daí não vem mal ao mundo.
Aliás, prefiro importá-las ou inventá-las a respeitá-las de forma cega, como acontece com tanto defensor de touradas e outras manias do género. Para cada tradição, pergunte-se: qual é o mal? No caso das touradas (essa bela tradição portuguesa), o mal é fácil de identificar: estamos a torturar animais.
No caso do Halloween, o mal é este: os miúdos divertem-se. Haverá melhor desculpa para importar tradições?
Originalmente é uma tradição celta que os emigrantes irlandeses levaram para EUs e que estes assimilaram: «HISTORY 23 h ·
«Halloween’s origins date back to the ancient Celtic festival of Samhain. The Celts, who lived 2,000 years ago in the area that is now Ireland, the United Kingdom and northern France, celebrated their new year on November 1. This day marked the end of summer and the harvest and the beginning of the dark, cold winter, a time of year that was often associated with human death».
É uma explicação simpática, mas, para mim, não colhe. Pode um prof. interessado ter feito a experiência, mas quantas experiências de profs interessados morrem na casca? Esta “tradição”, tal como a do “dia dos namorados”, foi agarrada com unhas e dentes pelo marketing e é boa para o negócio…