A conta de Twitter de Rui Moreira (presumo que não seja gerida directamente pelo próprio) respondeu a um artigo meu sobre o nome inglês da nossa cidade nortenha.
Diz o Twitter de Rui Moreira:
@marconeves cada vez menos os ingleses dizem Oporto. Já em Espanha ainda se ouve mais. Queremos que se diga sempre Porto.
— Rui Moreira (@ruimoreira2013) February 5, 2015
Respondi:
@ruimoreira2013 mas haver um nome diferente para uma cidade noutra língua só mostra a importância da cidade: também dizemos Londres, Milão
— Marco Neves (@marconeves) February 5, 2015
E podia ter acrescentado: não podemos controlar os nomes que os outros dão às nossas cidades. Seria tão absurdo como os ingleses virem cá exigir que passássemos a dizer “London” e não “Londres” ou os lisboetas começarem a reclamar do estranho nome de “Lisbonne” que os franceses dão à cidade.
A verdade é que compreendo aquilo que a Câmara do Porto está a fazer. O Porto é uma marca, há ali uma variação entre “Porto” e “Oporto” em inglês e convém acertar agulhas para que as campanhas de divulgação tenham mais impacto.
Não são os primeiros a tentar controlar os nomes internacionais das cidades: os ucranianos já tentaram impor o uso internacional do nome “Kyiv” em vez de “Kiev“. Porquê? Porque “Kiev” é o nome russo; se em ucraniano se diz “Kyiv”, o mundo devia seguir o exemplo, porque a Ucrânia já não é soviética. O mundo não está para aí virado (nem sequer como forma de arreliar Putin).
Por vezes, é o próprio nome do país que vem à liça: os generais birmaneses insistem que temos de chamar “Myanmar” à Birmânia — e muita gente cai na patranha. Timor-Leste insiste que o nome do país em inglês é… “Timor-Leste” (nada de “East Timor”). A Costa do Marfim quer que o nome do país seja “Côte d’Ivoire“… em inglês!
Cada uma destas tentativas de controlar os nomes que os outros povos chamam às nossas terras e países terão razões diferentes. Mas a verdade é que o sucesso ou fracasso destas tentativas não depende de qualquer decisão destes governos ou câmaras: depende da vontade (imprevisível) de uma comunidade muito grande de falantes. Há nomes que entram na língua, outros que nem por isso. As razões das línguas são, por vezes, insondáveis.
Voltando ao nome do Porto, julgo que, neste caso, a Câmara levará a melhor, a longo prazo, no que toca ao inglês. Não porque assim o tenha decidido, mas porque os dois nomes (“Porto” e “Oporto”) têm vindo a aproximar-se em frequência de uso. (Em espanhol, não tenho dados para averiguar.)
Ou seja, a Câmara do Porto pouco ou nada pode fazer para mudar a língua inglesa, mas neste caso a língua inglesa até parece inclinada para fazer a vontade à Câmara.