Os turcos estão nas bocas do mundo.
Nas notícias da tentativa de golpe, todos vimos imagens das televisões turcas, entre o horror e a dúvida sobre o que se estaria a passar.
Alguns, mais atentos, naqueles longos minutos em que tudo parecia acontecer, mas nada se conseguia perceber, talvez tenham olhado com mais atenção para as estranhas palavras turcas e percebido que se passava algo estranho com a letra i.
Mas antes de falarmos da pinta — quando olhamos para o turco escrito, há algo tão óbvio que nem reparamos: o alfabeto que usam é o nosso velho alfabeto latino. Mas nem sempre foi assim. Até aos anos 20, o alfabeto usado era o árabe.
Foi Kemal Atatürk, o pai da Turquia moderna, que impôs este novo sistema gráfico, como medida de aproximação cultural ao Ocidente. Enfim, como já discutimos muitas vezes neste blogue, a ortografia também tem implicações políticas e identitárias…
Essa Turquia que se quer moderna convive com uma outra Turquia, mais religiosa e conservadora, que terá algumas saudades do Império Otomano. Erdogan, com o seu palácio excessivo e as suas derivas autoritárias, apesar de continuar a dizer-se presidente da república fundada por Atatürk, terá como modelo, provavelmente, os sultões otomanos.
*
Bem, falemos da pinta: a letra i, no turco, é mais complicada do que parece. A pinta do i turco é um acento: pode lá estar ou não.
Assim, o turco tem i sem pinta e i com pinta:
O primeiro i, sem pinta, é mais difícil de ler. Se repararmos, dizemos «uuu» arredondando os lábios. Ora, se dissermos «uuu» sem arrendondar os lábios, estaremos a dizer qualquer coisa parecida com o i sem pinta do turco.
Já o i com pinta é parecido com o nosso i.
Assim, temos:
Mas:
Bem, com pinta ou sem pinta, com golpe ou sem golpe, confesso já que adorava ir a Istambul. Ou İstanbul.
Não conhecia pinta do i. No Brasil dizemos pingo do i.