Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

Porque somos tão curiosos?

Por que razão somos uma espécie tão curiosa? Qual a origem desta vontade de saber mais? Provavelmente, vem deste simples facto: os nossos antepassados mais curiosos sobre o mundo que os rodeava sobreviviam mais e reproduziam-se mais e acabaram por se tornar muito mais numerosos do que os antepassados pouco curiosos. É o princípio da evolução por selecção natural.

Imaginem uma floresta há alguns milhões de anos. Imaginem uma tribo nessa floresta. Dois homens. Um deles é muito curioso. Outro nem por isso. O curioso gosta de experimentar, de explorar… Afasta-se do acampamento, descobre um canto lindo, com um riacho e uma clareira; descobre e explora as grutas existem por ali. O outro não quer saber nada disso. Aparece um tigre no acampamento. Fogem todos. Qual dos nossos dois homens tem mais hipóteses de sobreviver? O curioso, que andou a explorar as redondezas? Ou aquele a quem nada interessa? Mais: quem tem mais hipóteses de conquistar a mulher mais bela da tribo? O curioso que sabe onde está o mais belo riacho de toda a floresta? Ou o mosca-morta que não quer saber nada sobre o que o rodeia?

Nós somos os descendentes dessa imensidão de curiosos, esses antepassados que, por sorte genética e subsequente selecção natural, foram ganhando gradualmente uma insaciável curiosidade sobre o mundo.

A ciência, no fundo, é o desenvolvimento sistemático dessa vontade ancestral de saber mais. Neste contexto, entendo as humanidades como parte da ciência: são o desenvolvimento desenfreado da vontade de saber mais sobre nós e os outros, ou seja, saber mais sobre a realidade humana que nos rodeia. (Quanto a mim, é a parte mais interessante da realidade.)

O que tem isto a ver com os livros? Tem imenso: os livros servem para saciar a nossa curiosidade sem precisarmos de começar do zero. Ganhamos esta imensa vantagem em relação aos nossos antepassados longínquos: podemos aproveitar as experiências e investigações de imensas gerações. É como se o nosso antepassado curioso tivesse acesso a um imenso mapa de toda a floresta, criado pelas gerações anteriores.

Por isso é tão bom abrir um bom livro de divulgação científica e descobrir um pouco mais como funciona o nosso mundo. Experimentem, de mente aberta e curiosidade aguçada. É um prazer.

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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