Pensemos no princípio: quando nasceu a nossa língua?
Terá sido quando alguém escreveu o nome «português» para se referir à língua dos Portugueses? Mas, quando tal aconteceu, a língua já andava na boca dos falantes, com características muito próprias, havia séculos. Ou terá sido quando apareceram os primeiros textos? Mas, para se escrever um texto numa língua, a língua já tem de existir… Talvez quando o latim aqui chegou, sofrendo alterações espicaçadas pelas línguas que já cá se falavam? Mas o latim já sofria alterações antes de cá chegar e continuou simplesmente a mudar, sem grande interrupção e sem que ninguém pensasse que estava a criar uma língua nova. O próprio latim já vinha de antes, doutra língua de que não conhecemos o nome que lhe davam os falantes. Essa outra língua também já vinha de trás, doutra língua que também vinha de uma língua mais antiga, numa sucessão de falares até ao início da linguagem.
Se quero contar a história toda, tenho de contar o que sabemos da história da linguagem humana − mas, para compreendermos o que se sabe da origem da linguagem (que não é muito), temos de pensar na origem do ser humano (e aí já sabemos mais). Para compreendermos a origem do ser humano, temos necessariamente de compreender a evolução das espécies − e, por fim, pensamos na origem da vida. Por fim? A vida desenvolveu-se sob as pressões naturais da Terra. Para contar esta história desde o início temos de recuar à criação da Terra − e talvez do Sistema Solar.
Vamos mesmo ao princípio. Comecemos no Big Bang.
O livro que tem nas mãos é uma homenagem à sua curiosidade − a essa vontade de saber mais que caracteriza o ser humano. Talvez queira saber mais sobre a língua ou talvez queira apenas perceber como pode um livro sobre o português começar no Big Bang. Num caso ou noutro, tentarei mostrar o percurso da nossa língua, não sem antes descrever o percurso da Humanidade e, antes de surgir esta espécie particular, a história do Universo.
O conhecimento humano tem uma continuidade que nem sempre se nota quando lidamos com as esmiuçadas disciplinas em que nos dividimos. Não que a especialização não seja benéfica: é com um profundo interesse individual numa parcela diminuta da realidade que a humanidade alarga o círculo do conhecimento; sabe bem, no entanto, levantar a cabeça e perceber o lugar que ocupa no Universo aquilo que nos interessa em particular. Foi isso que tentei fazer neste livro: pensar na língua começando por olhar para o Universo.
A ideia parte de um jogo, mas o resultado é uma exposição séria sobre a História da nossa língua vista na perspectiva mais geral possível. Esta perspectiva geral terá desvantagens, mas permite-nos, pelo menos, perceber que tão interessante como tudo o que distingue o português de outras línguas é aquilo que a nossa língua tem de típico enquanto língua humana.
Afinal, usamos a língua por inteiro, não apenas o que calhou distingui-la dos outros falares humanos − e usamo-la para tudo, até para conversar sobre o início do Universo.
Introdução do livro História do Português desde o Big Bang. Estrutura do livro:
«O certo é que as línguas não podem ter nascido por convenção já que, para se porem de acordo sobre as suas regras os homens necessitariam de uma língua anterior; mas se esta última existisse, por que razão se dariam os homens ao trabalho de construir outras, empreendimento esforçado e sem justificação? » – (Umberto Eco)
E, neste âmbito pergunto: A Língua portuguesa existe? – Pois, segundo o filósofo Umberto Eco, “uma língua não nasce por convenção”, entretanto o português nasceu por decreto de D. Dinis (rei de Portugal em 1296) quando este escrevia e falava em Galego! – Como é que ficamos, respeita-se o Direito de Autor e divulga-se que, afinal o que falamos e escrevemos, durante 8 séculos, é – na realidade, um dialeto do Galego, evoluído e aperfeiçoado, como afirmou o historiador português, Alexandre Herculano, em 1874, a se referir à língua portuguesa?! – Sugiro que o Brasil repense neste assunto, antes de divulgar que o Brasil fala brasileiro, pois, na realidade o Brasil fala, lê e escreve o Galego, no dialeto brasileiro.