Há quem goste de dramas, de indignações sem freio, de frases cheias de importância.
Ora, no Facebook, lá me aparecem por vezes algumas dessas personagens cheias de ar no peito, prontas a declarar certezas e indignar-se por tudo e por nada.
Pois ainda há pouco fui chamado de criminoso por um desses inflamados (ou, vá, alguém me disse que eu talvez tivesse cometido um crime). Porquê? Por causa deste artigo: «10 nomes de línguas de Espanha (incluindo o português)».
Que crime cometi eu? Pelos comentários, só posso chegar a esta conclusão: o homem deu uma cambalhota mental e achou que eu estava a defender a união de Portugal e Espanha. (Se lerem o artigo, verão quão estranha é essa ideia.)
Perante isto, podia dar-me para pior… Mas limitei-me a pedir ao comentador baralhado para ir ler o texto. Talvez seja ingenuidade, mas estou convencido que ninguém que tivesse lido o texto diria um disparate daqueles.
Será que o comentador implacável foi mesmo ler o texto que já tinha comentado? Não sei. Desculpas não recebi. Mas recebi mais uma lição sobre natureza humana em ambientes virtuais: lemos o título, chegamos à pior conclusão possível e comentamos, cheios de certezas.
Deixem-me lá aconselhar que façamos ao contrário: lemos (com alguma generosidade), respiramos fundo, pensamos e comentamos. Se não temos tempo para ler, bem… não comentamos!
Agora pondo a hipótese de o homem ter mesmo lido o texto… Só posso chegar a outra conclusão: estas coisas da identidade mexem tanto connosco que ficamos a pensar mal. Só assim se explica que alguém considere crime lembrar que o galego e o português estão muito próximos, partilham uma história e ainda há quem os considere a mesma língua (o que significa que, na cabeça dessas pessoas, «português» é um dos nomes de uma das línguas de Espanha).
Quem achar que dizer isto é crime, vá à polícia, porque não vou deixar de falar destes assuntos.
Reparem que o comentador ainda teve tempo para me atirar com um perigoso insulto, assim, às secas: «espanholista»! Acho que hoje vou ter pesadelos com castanholas.
Bem, é verdade, até gosto das Espanhas. Mas, tendo em conta que defendo a continuação da separação política entre Portugal e o reino vizinho por muitos e bons séculos e ando sempre a deslizar para perigosas simpatias galegas e catalãs, devo ser o único espanholista separatista do universo.
Olá! Eu trabalho a falar o vosso galego e já ouvi de tudo, ainda hoje uma senhora de Lisboa, dona Catarina se chamava, me disse Você é do Norte! Não é! E disse-lhe Sou! Sou galego, no fim da chamada a mulher lembrou as minhas origens e disse-me que gostava muito de ir a Santiago ver o Santiago Mata-mouros!! Foi muito engraçado!!! Houve também quem me perguntou se era do Porto e me despediu ao grito de “e Biba o Puôrto! Carago!” mas, por vezes, há sempre alguém, os menos que notam a minha articulação dalguma sibilante sonorizada onde não toca ou alguma liquida lateral não velarizada como devia, esses logo me mentam trapalhices sobre os espanhois e para mim essa espanholidade é-me tão alheia tão exotica, que fico espantado, chocado e é então que nalguma ocasião explico educadamente a questão da lingua dos galegos e portugueses com maior ou nenor fortuna, uma coisá é clara essa gente não gosta de pensar, acha uma perda de tempo avaliar qualquer lógica alheia… e finalmente ainda há quem diga, O senhor fala muito bom português! melhor do que alguns portugueses! Manias…
Achei bem divertido o artigo.
Tambem mereceria o insulto do tal senhor pois considero que o português e o galego são a mesma língua com variantes por terem evoluído em contextos políticos diversos. Não será ? Mas nisto como em tantos outros assuntos, ter uma opinião diferente não e crime.
Son galego de Pontevedra, Rias Baixas, e considero que a nosa lingua galega e o portugués son a mesma lingua ainda que con diferenzas mais que nada polo ataque esmagador do castelhano dende o século XVI. Eu de 12 anos fun de viaxe ao sur da provincia de Pontevedra e en alguns pobos pensaba que eran todos portugueses polo sotaque, agora xa estase perdendo ese sotaque tan noso.
l E tamen e certo que considero que para nos os galegos foi uma desgraza non formar un só pobo cos nosos irmaos portugueses, estivemos perto de facelo en 1476 con Afonso V de portugal e no ano 1666 co conde de Castel Melhor, mais ficamos en espanha, resultado:
morte da nosa lingua, esquecemento da nosa cultura, desprezo por parte dos castelhanos, pobreza, muitos emigrados, mergullados en continuas guerras imperiais castelhanas etc etc
Non muitos pensan coma min mais ainda somos uns 200.000 mil. poucos mais muito apaixoados.
Para os galegos procastelhanos hai unha cousa que e un dogma:
“O galego e o portugués son linguas totalmente diferentes”
E ainda que a repitan milleiros de veces nom e verdade.
Tamen hai portugueses que por outros motivos nom queren a Galiza, sinto muito mais estan no seu dereito a pensar como quixeren.