Há uns meses, escrevi este texto para o jornal da Escola Eça de Queirós, nos Olivais, a pedido do professor Fernando Pinto. Hoje, lembrei-me de vir aqui deixá-lo para que os leitores deste blogue também o possam ler.
Nunca fui aluno da Escola Eça de Queirós. Mas não deixa de ser uma das minhas escolas. Porquê? Explico já.
Primeiro, anda por lá o meu sobrinho mais velho, o Dinis. Depois, é bem provável que o meu filho Simão lá vá parar um dia. E, por fim, nunca me vou esquecer do dia em que conversei com os alunos da escola, interessadíssimos e bem atentos, ali à minha frente. Sim, nunca vou esquecer, porque, se é verdade que já tinha falado sobre os dois livros que escrevi em livrarias e bibliotecas, esta foi a primeira escola a que fui. E se há palavra que descreve o que senti, só pode ser esta: prazer!
Pois que melhor tema para escrever para o jornal desta escola do que os prazeres da língua? São muitos, eu sei. Por isso, tive de escolher três:
1. Conversar
Com as palavras, todos os dias fazemos alguém rir. Ou, pelo menos, serão raros os dias em que cada um de nós não se ri ou não faz rir nas conversas que temos. É um dos grandes prazeres: entre amigos, amores, família, a língua serve para viver. Conversamos, sussurramos, contamos histórias, interrompemo-nos, discutimos, fazemos as pazes, apimentamos tudo com os gestos das nossas mãos, a acompanhar a torrente de sons que sai da boca. E não é um prazer? Sim, é: embora seja um prazer que sentimos tantas vezes e em tantos sítios, que nem reparamos nele, tal como não reparamos no triste que seria uma vida sem conversas, sem riso, sem palavras.
2. Ler
Há poucos dias, encontrei um homem de ar curioso, sério e compenetrado, a ler no metro. Mal reparei no senhor, até ao momento em que percebo que está a ler um livro minúsculo. Tão pequeno que eu não conseguia, a dois metros de distância, perceber o título. Pois o certo é que tão diminuto objecto, com as palavras que lá estavam escritas, conseguiu fazer o homem franzir as sobrancelhas, suspirar fundo, chorar e rir às gargalhadas — tudo bem visível na sua cara e tudo no espaço de três estações. Nunca me vou esquecer dessa curta viagem em que vi, ao vivo, a força da literatura na cara dum homem no meio de gente distraída. Naquela carruagem, era ele quem vivia mais intensamente. É essa a força das palavras e um dos prazeres das línguas humanas.
3. Regressar à língua-mãe
Falar outras línguas é mais do que importante: é imprescindível nos dias que correm. Poucos são aqueles que vivem uma vida inteira sem balbuciar palavras em línguas estrangeiras — e ainda bem que é assim, digo-vos. No entanto, sinto um prazer especial quando ando umas horas ou uns dias a falar em inglês ou em espanhol e, depois, volto ao nosso querido português. É como chegar a casa depois duma viagem: a viagem sabe bem, mas o regresso… Ah, o regresso… Os sons, a entoações, as exactas palavras que vêm da nossa infância. A nossa língua materna é isso mesmo: materna — e nossa. É a nossa boa língua portuguesa.
Só posso dizer que concordo…
O prazer das palavras, o prazer da língua , tão fácil, tão gratuito e tão grande : falar, ler, rimar ( o que me divirto com o Lucas, de 4 anos, e a Isabel de 8 a fazermos jogos de rimas, por exemplo! ) ouvir, repetir, reagir, jogar, cantar, rir, viver!