Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

Viagem por dez palavras galegas

Há uma semana, lá parti em direcção à Galiza para conversar um pouco sobre a nossa língua. No carro, íamos quatro: a Zélia, o Simão, o Matias (pela primeira vez em viagens para lá da raia) e aqui o vosso condutor. Deixo aqui algumas palavras que fomos coleccionando pelo caminho…

A peaxe na estrada

Partimos em direcção a norte e, já noite bem caída, passámos a fronteira para deleite do Simão — e nosso.

Fomos previdentes: enquanto eu conduzia a nossa nave pelos quilómetros que separam Lisboa de Valença, a Zélia telefonou à Via Verde para que pudéssemos usar o nosso utilíssimo sistema nas auto-estradas galegas. A senhora informou que, sim, já podíamos usar a Via Verde em Espanha, mas só nalgumas auto-estradas. Ficámos um pouco baralhados, mas pensámos: bem, as auto-estradas galegas farão, certamente, parte desse grupo de estradas preparadas para receber os portugueses e o seu sistema de pagamento verde.

Quando nos apareceu a primeira «peaxe» na estrada, com o «x» que pintalga tantas palavras galegas, avançámos pela via da Telepeaje (sem «x»). A nossa maquineta apitou, mas a cancela não levantou.

Raios: e agora? Não via ninguém à minha volta. Já eram duas da manhã (estávamos num daqueles curiosos lugares do mundo onde a hora muda quando viajamos para norte).

Tive de fazer algo peculiar: andei de marcha-atrás durante uns metros e passei para a via ao lado, onde pude, com alívio, pagar a peaxe com as nossas moedas, ver levantar num aliviado gesto a cancela galega e avançar pela estrada em direcção ao hotel.

Espero que nenhum guarda civil me tenha visto — e espero também que não me leia este artigo e o considere prova de alguma infracção. Afinal, para multas, já me basta a do ano passado. Não sei o que devia ter feito naquele momento: mas ficar ali parado à espera de alguma coisa a meio da noite é que me pareceu um disparate.

Pouco depois, apareceu-nos uma daquelas placas da estrada que informa qual o governo que paga a dita estrada. Aquela autopista tinha sido paga pelo Estado espanhol. Logo, era parte da «Red de Carreteras del Estado». O que talvez impressione algum português menos distraído é ver, por cima, a designação galega: «Rede de Estradas do Estado». Precisamente assim, sem uma única diferença que se veja em relação à nossa forma de dizer a mesmíssima coisa.

Chegados ao hotel, fiz aquilo que não posso fazer em mais nenhum lugar de Espanha: falei em português sem abrir uma única vogal! É difícil: parece que a fronteira tem um efeito qualquer na nossa garganta e leva-nos a falar um português a resvalar para o tropical. Mas, não, fui forte e falei português, tentando apenas não abusar da velocidade. A mulher que nos atendeu falou-nos em galego e tudo decorreu sem percalços, apesar da hora tardia a que chegámos. (No dia seguinte, diga-se, outra funcionária falou-nos apenas em espanhol, mas não estranhou quando lhe respondi em português.)

Repare-se nisto: todos nós, quando estamos com alguém em quem confiamos, aproximamos a maneira de falar — e, quando estamos numa situação de hostilidade, afastamos as nossas palavras da outra pessoa. É um fenómeno sentido em todas as línguas. Pois, no caso do galego e do português, nós podemos aproximar aquilo que falamos uns dos outros e conversar sem mudar de língua, exigindo apenas algum esforço (e cuidado com os falsos amigos). O problema é que muitos de nós, portugueses, não sabemos disto e conversamos no nosso mau espanhol com galegos que perceberiam bem o nosso bom português.

Birras e caraveis

Poucas horas depois, acordei para ir falar, logo pela manhã, à Escola Oficial de Idiomas, que foi a razão que me trouxe àquela cidade.

Não chovia, o que me fez sorrir. As viagens apetecem, pois então. Mas apetecem mais ao sol — assim, nos dias anteriores à partida, fui consultando o Oráculo de Google, que me disse ir encontrar uns dias de boa chuva galega.

Pois, não foi nesse primeiro dia que a chuva chegou. Falei na aula e, depois de uma boa conversa à mesa com alguns alunos de Português, voltei ao hotel. Da chuva, ainda não havia sinais. Mas havia doutras tempestades. Afinal, uma viagem e um irmão mais novo multiplicam a probabilidade de ocorrência de birras — e foi assim que tinha o Simão de pernas para o ar no quarto de hotel.

A birra passou e a chuva não veio — saímos os quatro para passear e almoçar com alguns amigos galegos num edifício que não conhecia: o Auditório de Galicia. Um edifício magnífico, com um restaurante muito agradável.

Enquanto conversávamos e o Simão tentava derrubar-me da cadeira, descobri que a palavra para birra, em galego, é «perrencha» ou «berrinche» — mas (e aqui está um dos segredos linguísticos da nossa fronteira a norte) — há regiões da Galiza onde a palavra «birra» também é usada, pelo que me disseram.

É o que acontece em muitos casos: há várias palavras para designar a mesma coisa… Isto também é assim nas outras línguas, mas talvez seja especialmente relevante no galego, que sobreviveu sem uma norma escrita durante séculos, o que deixou em liberdade todas as palavras. Assim, temos hoje, para janela (e usando a ortografia oficial): «fiestra», «ventá» e «xanela». (Quem me deu este exemplo foi o Valentim Fagim, o professor de português que me convidou para estas palestras compostelanas.)

Como vemos, estas opções podem afastar ou aproximar o galego do português. É também neste jogo de preferências que se notam as várias correntes linguísticas: o galego oficial, o galego reintegracionista e, dentro destas, várias subcorrentes que não vou esmiuçar agora.

Tudo isto ocupa muito tempo e energia aos galegos, mas a nós, cá em baixo, basta-nos esta proximidade que poucos conhecem — e ainda o gosto de sentir este material linguístico que nos é tão próximo, sobreviveu tantos séculos para lá da fronteira e é tão saboroso para os nossos ouvidos, se o soubermos escutar.

Cá fora, os meus amigos fizeram-nos notar uma pequena placa decorada com cravos nesse dia 25 de Abril: foi ali que, pela primeira vez, foi cantada em público a canção Grândola, Vila Morena. Nunca imaginaria que essa música tão importante na nossa História tivesse sido ouvida pela primeira vez ali, em Santiago de Compostela. Mais tarde, lembrei-me de ir ver como se escreve «cravos» em galego. Descobri então que a palavra é «caraveis» e lembrei-me de imediato das caravelas. Estranhas ligações se fazem nas nossas cabeças quando navegamos nos mares das línguas perigosamente próximas.

A abella e a coruxa da bruxa

Nos dias seguintes, decidimos repetir: voltámos ao Auditorio de Galicia, para ficarmos em sossego a apreciar o verde de Santiago, com o pequeno lago como paisagem e o centro histórico lá ao fundo. A ameaça de chuva (que continuava a não aparecer) dava um toque de calma nórdica à cidade.

Foi um daqueles saborosos momentos em família. A Zélia sentou-se num confortável sofá na varanda envidraçada sobre o lago para dar de mamar ao Matias. Já o Simão ouviu uma história que lhe contei a partir dum livro que estava por ali. O restaurante estava vazio e ouvíamos o tilintar da loiça na cozinha que se preparava para o almoço (que os galegos chamam, veja lá bem, «jantar»). Estávamos felizes numa cidade bonita.

O livro que li ao Simão era Adán e o tesouro. A história estava escrita em galego, mas li à portuguesa, pois tentar falar à galega faz-me sentir que estou a imitar um sotaque. Tive de alterar uma ou outra palavra e dar uma volta diferente nalgumas frases, mas não foi difícil.

Lembro-me especialmente da «coruxa da bruxa que se chamava Xurxa» (ou outro nome com muito «x»). O Simão gostou da história e riu-se muito com a coruxa da bruxa.

O momento foi interrompido por uma abelha malandra, que decidiu entrar por ali e nos obrigou a encontrar outro sofá, um pouco mais afastado da janela. A abelha, essa, galega que era, escreveria o nome com dois «ll» ou com «lh», conforme as suas inclinações linguísticas.

Na verdade, contou-me depois o José Ramom Pichel, o amigo galego que nos acompanhou nesses dias, era bem provável que a abella fosse pouco galega: seria uma vespa asiática introduzida por estas terras há bem pouco tempo.

Não sei: sentámo-nos noutro lugar e continuei a história da bruxa e da sua coruxa. O Matias acabou de mamar, a sorrir, gordinho e lindo, um bebé que ainda nem sabe por onde anda, mas não pára de sorrir.

A bolboreta (e outra vaca no milho)

Ora, não queria deixar a Galiza sem me abastecer de livros galegos. Aconselharam-me a livraria Couceiro — um prazer em forma de vários andares de livros e ainda uma oficina de encadernação. Não foi muito fácil navegar pela livraria com o carrinho de bebé, mas conseguimos.

Procurava Um elefante no armário, o último livro de Teresa Moure. Tinha tido o prazer de conhecer a escritora no dia anterior e queria levar de Santiago essa recordação em forma de livro. No entanto, nem sempre conseguimos o que desejamos: não o encontrei na Couceiro e as horas do Matias, que não gosta de esperar muito pelas refeições, não me deixaram procurá-lo noutros lugares.

Assim, em modo de emergência, peguei num livro de Manuel Rivas chamado Que me queres, amor?

Minutos depois, enquanto o Matias mamava e o Simão brincava, li de rajada um dos contos do livro: «A lingua das bolboretas». O leitor sente o início da Guerra Civil espanhola como uma chapada. É delicioso e forte e pode ser lido por qualquer português.

As dificuldades linguísticas desaparecem com pouco esforço, mais do que compensado pela delícias das pequenas diferenças — delícias como o formigueiro que sinto ao ver «borboleta» escrita como «bolboreta». Uma letra ou outra fora do lugar, mas vemos a borboleta a voar da mesma maneira.

Já agora, os primeiros parágrafos que li em galego foram escritos por Manuel Rivas — o autor, aliás, de quem falei no primeiro artigo deste blogue. Refiro-me ao início do primeiro conto do livro Ela, maldita alma, comprado numa viagem a Vigo há muitos anos, quando ainda não sabia a ligação que haveria de ter com aquelas terras. Os parágrafos — o início do conto «A vella raíña alza o voo» — são estes:

Aquela primavera chegara axiña e en demasía.

Á hora do café, pola fiestra que daba á horta, Chemín mirou a festa de paxaros na vella maceira florida. Durante o fosco silencio do inverno só acodía alí o paporroibo, peteirando como un neno mineiro nas sens prateadas polo brión, brincando nas pólas espidas co seu saquiño de aire alegre e colorado. Ás veces tamén viña o merlo. Pousaba a súa melancolía de luscofusco, devolvendo de esguello a mirada do home, e logo fuxía de súbito, abrindo as alas nun pentagrama escuro.

Não sei o que acha o leitor, mas esta mistura de algo muito próximo e palavras estranhas ou antigas, como uma recordação que já não conseguimos definir, é por si só uma delícia — para não falar do saboroso estilo do próprio autor. Aquela primavera chegara axiña e en demasía. Não me esqueço desta frase.

Já agora, fique o leitor com o início do livro de Teresa Moure — Um elefante no armário — que não consegui comprar, mas cujas primeiras páginas estão disponíveis na nossa Wook:

De todas as selvas que existem no mundo, sem dúvida a mais adaptada para as necessidades humanas, a realmente confortável, é a dos congressos. Um animalzinho de pés calçados mal poderia correr com velocidade numa fraga húmida; estaria condenado a escorregar e cair.

Hei-de encontrá-lo e lê-lo e, quem sabe, trazer até aqui as minhas impressões. A estranheza, essa, é outra — a estranheza de ler um texto tão próximo.


Bem, podemos andar por aqui a dizer que a proximidade é muita e não sei que mais, mas o certo é que uma pessoa chega ao hotel e encontra logo portugueses a fazer o check-in em mau espanhol. Os funcionários do hotel não estranham — e lá respondem em galego, sem que os turistas ou peregrinos recém-chegados desconfiem que estão a ouvir uma língua que não é a espanhola.

Quando vejo um português a cair nestes enganos linguísticos, penso numa expressão galega: «outra vaca no milho!» Ou seja: lá está outro a cair no mesmo erro…

(Ainda ontem, na RTP, vi outra vaca perdida no milho: um jornalista entrevistava um vereador de Tui e, no ecrã, aparecia a legenda «Vereador do Ayuntamiento de Tui». Ora, a câmara municipal lá do sítio chama-se — vejam lá isto bem — «Concello de Tui».)

Festinhas e aloumiños

Continuamos a viagem.

No sábado, combinámos um passeio até à praia com o José, a Sabela, a irmã dela e o cunhado. Ainda não conhecíamos bem a costa galega e foi uma oportunidade de ver como é o Atlântico por aquelas latitudes…

Almoçámos num restaurante em Muros. As traineiras viam-se a balançar no porto. Comemos bem, conversámos, rimo-nos e fomos então para a praia, onde o Simão e a Matilda, a sobrinha do Pichel, jogaram à bola e vi, pela primeira vez, o cabo Fisterra lá bem ao fundo (e também joguei à bola, que o Simão não permite muito tempo de descanso ao pessoal).

Fomos trocando cromos linguísticos, conversando sobre as palavras que são iguais e diferentes: eles descobriram que nós, em Portugal, dizemos «festinhas» para aquilo que os galegos chamam «alouminhos». Lembrei-me das festinhas que dou ao Simão, na cabeça ou nas costas, para ele adormecer — quando o sono não vem, ele lá me pede as «festinhas doces» a que tem direito.

Foi então, estávamos nós na praia de Ancoradoiro, que senti na cara a tal «choiva» prometida pelo oráculo. Ali mesmo ao lado, havia um pinhal. O cheiro da caruma molhada veio ter comigo, misturado com o cheiro a sal, e senti qualquer coisa de muito meu, como se estivesse numa praia da minha terra, com dunas pintalgadas de verde escuro, algas na areia a marcar o limite da maré, o cheiro dos pinheiros sob o céu nublado e gente encasacada a conversar, com as vozes enroladas no barulho da espuma e das ondas, na incessante agitação do Atlântico. Eram os cheiros e sons da minha infância numa praia galega.

Talvez seja o momento de contar um segredo sobre outra palavra: como já revelei há muito tempo por estas paragens, havia uma palavra da minha infância que nunca encontrei em mais lado nenhum: o verbo «chincar» com o sentido de «tocar». Pois foi o Pichel que, já lá vão uns tempos, me enviou uma ligação para o Dicionário de Dicionários Galegos, onde essa palavra aparecia com o mesmo significado que as pessoas da minha terra lhe dão (é preciso procurar na página, mas está lá). Uma certa palavra de Peniche surge assim, de surpresa, em velhos dicionários galegos…

Um arco da velha ao nosso lado

Uma viagem com boa comida, algumas birras, muita conversa. No regresso, entrámos em Portugal por outra porta, ali bem ao pé de Chaves. Pois foi já no nosso país que o Simão delirou com a surpresa que as nuvens reservaram para o final do nosso périplo: a chuva começou a bater leve, levemente e de repente tínhamos neve a envolver a nossa nave. O Simão não falou doutra coisa durante horas e horas. Eu sorri: foi a primeira vez que vimos nevar em Portugal!

Pouco depois, já a chegar a Coimbra, apareceu-nos um imenso arco-íris ao lado — era um arco-íris estranho, enorme e perfeito, mas que acompanhava o carro! Não sei explicar. Imagino que estivesse a ser criado pela refracção da luz nalgum vidro do nosso próprio carro. Não sei mesmo. Foi a segunda vez no dia que ficámos os três — o Matias ainda não repara nestas coisas — de boca aberta a olhar para uma surpresa na paisagem. São coisas do arco da velha — que. já agora, é o nome que os galegos dão ao arco-íris.


São estas as 10 palavras galegas por onde viajámos (a mistura de ortografias é intencional):

  1. Peaxe
  2. Estrada
  3. Perrencha (ou birras)
  4. Caraveis
  5. Abella
  6. Coruxa
  7. Bruxa
  8. Bolboreta
  9. Aloumiño
  10. Arco da velha
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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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21 comentários
  • Berrinche é palabra do castellano, nin a oín nunca a falantes “antigos” nin aparece no “Dicionario de dicionarios”, nin nos dicionarios galegos.

    Aí vai unha outra palabra galega: traíña. A primeira “traineira” da sardiña penicheira veu de Vigo arredor de 1921, mais non nón lle chamamos traineiras, senón traíñas, o portugués colleu traineira do castellano supoño. En galego pode chamarse arco iris ou arco da vella (arco-da-velha é tamén voz portuguesa)

    • Sim, arco-da-velha também é usado por cá, mas na minha experiência apenas na expressão “coisas do arco-da-velha” (ou semelhante). Perdeu o sentido de “arco-íris”. Obrigado pela observação sobre “berrinche” — e muito obrigado pela “traíña”! 🙂

    • Que diferença enorme……”arco-da -velha” e “arco da vella” . Tenho de ir buscar o dicionário, acho que não consigo traduzir…….que difícil.

      • A diferença ortográfica é mínima e era aí mesmo que queria chegar. 🙂 No entanto, neste caso, o significado é diferente, pois em Portugal já não associamos “arco-da-velha” ao arco-íris.

  • No texto da Teresa Moure hai un “falso amigo”, fraga en galego é usualmente un bosque, de carballos e especies similares (localmente un penedo, como en portugués mais o sentido usual é o de bosque). Sospeito, pola toponimia, que en Valença hai tamén fragas co sentido de bosque, ainda que no portugués xeral é grupo de penas (outro galeguismo vivísimo en troca de Penha)…até Río Maior polo menos chegan as “penas” na toponimia

  • Gostei de ler a história da vossa viagem pelas palavras galegas e pela Galiza ela mesma. Na minha terra, bem portuguesa, o arco íris dizia-se, arco-da-velha e ninguém o conhecia por outro. Penso que hoje só os mais velhos o designam assim. A cantilena que então lhe cantávamos para que desaparecesse “arco da velha vai-te deitar que as meninas bonitas não querem casar”. Não me pergunte para que queríamos fazê-lo desaparecer se o achávamos tão inconcebivelmente bonito. Mas ficávamos a olhá-lo fixamente e a repetir, repetir, repetir. Até que…já está, desapareceu. E era uma vitória. Nossa, claro. Ou dos nossos incríveis poderes.

  • Posso confirmar que também por aqui, na Zona Gandareza, entre Figueira da Foz e Mira, aprendemos dos nossos ascendentes, a chamar-lhe primeiro “Arco-da-Velha” e só depois que fomos para a escola passamos a conhecer a versão Arco Íris.

  • Não sei se comento isso no post certo mas, ouvindo o idioma galego no canal TVG do satelite hispasat 30w realmente
    A primeira impressão que dá é de que falam espanhol, ou um português com forte sotaque espanhol, apenas após aguçar os ouvidos percebo as palavras mais portuguesas que espanholas, é como uma viagem no tempo, deve ser a lingua que se falava quando “descobriram” nosso querido? Brasil.

  • “Arco-da-Velha” é apenas uma redução da expressão “Arco da Velha Aliança”, que se refere ao episódio bíblico da Arca de Noé e da aliança que Javé teria assinado com os homens por meio da aparição o Arco Íris, no sentido de que não ia haver mais dilúvios. Um autêntico marco na história do marketing, mas uma das promessas eleitorais mais fraudulentas da história, como se pode ter comprovado nestes últimos meses na Galiza. Na terminologia cristã chama-se “da Velha Aliança” porque representa a aliança de Deus com os judeus no “Antigo” Testamento, face a “Nova Aliança” que seria a que estabelece Jesus Cristo com a Igreja no “Novo” Testamento. Curiosamente, do apócope da expressão e da perda consequente de sentido, surge a lenda de haver uma velha com um caldeiro de ouro na base do Arco Íris, como uma maneira de explicar o nome e o fenómeno.

  • Quanto a “festinhas”, é forma muito utilizada na Galiza. Mesmo quando se fala em castelhano insere-se a palavra em galego, por a achar mais “terna”. Só que há uma espécie de deslizamento semântico, pois costumamos utilizar, antes que para os carinhos que fazem os adultos aos bebés, para as risadinhas, balbuceares, gorjeios, gargarejos, espumajos e outras manifestações de alegria que eles fazem, não sei se como resposta das “festinhas” que nós lhes fazemos, ou por causa de não terem visto ainda o seu primeiro noticiário

  • “Berrinche” é puro castelhano. Deveu entrar na Galiza, como tudo, por via da TVE. O galego é “perrencha”. Usa-se normalmente no pseudo-castelhano agalegado do Impaís, não só a falar galego.

  • Adorei seu texto! Fiquei sabendo sobre a ligacao do portugues com o galego a pouco tempo quando estava fazendo uma pesquisa sobre a origem da lingua portuguesa.
    Sou brasileira, mas a muitos anos atras, em Londres, estava entre um grupo de espanhois, todos conversando em espanhol, e eu estava falando com uma das garotas e espantada disse a ela que era interessante que ela falava portugues ( portugues de Portugal). E ela me disse que nao estava falando portugues, mas que era da Galicia e que era assim que se falavam por la! Fiquei impressionada com a similaridade !!!

  • Adorei sua historia! Ha anos atras encontrei uma garota espanhola em Londres e conversando com ela achei que ela estava falando portugues ( de Portugal). Foi quando ela me disse que nao estava falando portugues, mas que era da Galicia e que era assim que falavam por la! Sendo brasileira fiquei encantada com a similaridade! Foi somente a pouco tempo atras, fazendo uma pesquisa sobre a lingua portuguesa e que descobri que o portugues surgiu do galego, e me lembrei imediatamente da garota que tinha conhecido a anos atras. Muito interessante!

  • Boa tarde!
    Já uma vez referi, num comentário que não foi selecionado para publicação, que a palavra “chincar” também se usa na Nazaré com o mesmo sentido. Provavelmente terá a mesma origem uma vez que, grande parte da população da Nazaré emigrou de Ílhavo, no passado, tal como muitos pescadores e suas famílias, nazarenos, acabaram por se fixar em Peniche.
    Cumprimentos.

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