
- PORTUGUÊS | Começamos na língua em que está escrito este texto (que é também um capítulo no livro História do Português desde o Big Bang).
- CASTELHANO | É verdade que temos apenas cinco letras para as representar, mas na oralidade as vogais do português são catorze. Aqui ao lado, encontramos uma língua com apenas cinco vogais. É uma das razões por que é tão difícil aos vizinhos perceber o que dizemos. Para compensar, na escrita, têm uma letra vogal adicional: o <y>.
- BASCO | Ali a um canto da península, lá continua o basco. É a única língua não indo-europeia da península. Na Europa, há mais umas quantas: o maltês, o turco e as línguas urálicas como o húngaro, o finlandês e o estónio (sem esquecer outras da família, como o lapão). O basco é a única sem familiares conhecidos.
- CATALÃO | Ainda sem sair da península, temos o catalão.[1] Na Idade Média, foi uma importante língua do Mediterrâneo. Os primeiros textos conhecidos em catalão são mais antigos do que os primeiros textos conhecidos na nossa língua.
- OCCITANO | Passando os Pirenéus, encontramos o occitano. A língua tradicional do Sul de França é hoje falada por poucos, mas recebeu um Prémio Nobel da Literatura antes do inglês ou do italiano. O laureado foi Frédéric Mistral, em 1904.
- FRANCÊS | A ortografia francesa está particularmente distante da fonética da língua. Uma palavra como «août» é lida por muitos franceses simplesmente como [u]. A conjugação verbal é também muito mais simples na oralidade do que na escrita.
- NEERLANDÊS | Apesar de, em Bruxelas, ser mais fácil encontrar quem fale francês, o neerlandês é a língua mais falada na Bélgica, onde era tradicionalmente chamada «flamengo». Por cá, também usamos o termo «holandês» para designar a língua.
- FRÍSIO | Esta é a língua mais próxima do inglês. Mesmo assim, são muito diferentes, porque o inglês sofreu profundas alterações (e o frísio também não deve ter ficado parado). Aqui fica uma frase em frísio: Myn namme is Marco en ik kom út Portegal.
- INGLÊS | É uma língua germânica apaixonada pelo léxico de origem latina. Vindas do francês, do latim ou de outras línguas românicas, há tantas palavras latinas no inglês que é quase um membro honorário do nosso clube. Note-se: no inglês, as palavras latinas tendem a ser mais formais.
- SCOTS | Ane leid is ne’er eneuch![2] Na Escócia, fala-se gaélico (nas Terras Altas), inglês (à escocesa) e ainda scots, considerado por uns dialecto do inglês e por outros língua separada. Uma coisa é certa: tem uma antiga tradição literária.
- NORUEGUÊS | Tem duas normas oficiais, ambas ensinadas nas escolas, cada uma com variedade interna considerável: o nynorks («novo norueguês») e o bokmål («língua dos livros»). Esta última é a mais usada e também a mais próxima do dinamarquês.
- SUECO | Além da Suécia, é também língua oficial na Finlândia, a par do finlandês (excepto nas Ilhas de Aland, parte da Finlândia onde só o sueco é língua oficial). Curiosamente, só foi considerado explicitamente língua oficial da Suécia em 2009 (não é nada de extraordinário: o inglês ainda nunca foi declarado língua oficial do Reino Unido…).
- LAPÃO | Se o Pai Natal existisse, desejaria um Feliz Natal em lapão: Buorrit Juovllat!
- RUSSO | Apesar de haver muitas línguas na Rússia (incluindo o lapão), o russo é, de longe, a língua mais falada no país. Aliás, o russo é a língua mais falada na Europa como língua materna. A Europa, note-se, vai até aos Urais…
- CAZAQUE | Esta língua está a mudar de alfabeto. Até 2025, passará a escrever-se com o alfabeto latino. O anterior alfabeto (cirílico) continuará muito presente no país, pois o russo continua a ser uma das duas línguas oficiais.
- CHINÊS | Em Macau, as línguas oficiais são, de acordo com a legislação em português, o «português» e a «língua chinesa». Só que a língua chinesa oficial é o cantonês e não o mandarim, como também acontece em Hong Kong. Cantonês e mandarim são duas línguas consideravelmente diferentes uma da outra. CHINÊS II | Em Taiwan, a língua oficial é o mandarim, tal como na República Popular da China (RPC), mas os caracteres usados são os tradicionais e não os simplificados, usados na RPC. Em Macau e Hong Kong, usam-se os caracteres tradicionais, mas a língua oficial é o cantonês.
- COREANO | As duas Coreias partilham uma língua, mas não o nome da língua. Na Coreia do Norte, a língua chama-se chosŏnmal, aliás, 조선말. Na Coreia do Sul, chama-se hangugeo, aliás, 한국어.
- JAPONÊS | Para ler japonês, é necessário conhecer 3 conjuntos de caracteres: os silabários hiragana e katakana e os caracteres kanji, de origem chinesa. Uma só frase pode incluir caracteres dos três tipos. É, provavelmente, o sistema de escrita mais complexo do mundo. ありがとう
- FILIPINO | Nas Filipinas, as línguas oficiais são o inglês e o filipino, uma padronização do tagalogue, língua da área de Manila. Este padrão oficial já se chamou «pilipino», quando havia o objectivo de tentar expurgá-lo de influências espanholas e inglesas (o <f> não era próprio do tagalogue).
- TOK PISIN | Com mais de 850 línguas, a Papua-Nova Guiné tem mais de 10 % das línguas do mundo. A língua franca mais comum é o tok pisin, um crioulo com léxico de base inglesa. O tok pisin é cada vez mais falado em todo o país. «Obrigado» diz-se «tenkyu».
- TÉTUM | Ita bele ko’alia Tetun? Timor-Leste tem duas línguas oficiais: tétum e português. Ambas as línguas são hoje muito mais faladas do que eram quando o país recuperou a independência, em 2002.
- MAORI | Um dos nomes oficiais da Nova Zelândia é Aotearoa, em maori, uma das línguas oficiais do país. Todos conhecemos uma palavra com origem no maori: «kiwi». Por lá, «kiwi» refere-se a um pássaro. O fruto que conhecemos chama-se «kiwifruit» − e veio da China.
- PITKERN | Nas Ilhas Pitcairn vivem ainda os descendentes dos amotinados do Bounty. É uma comunidade de aproximadamente 50 pessoas, que falam um crioulo denominado pitkern, com origem no contacto do inglês dos marinheiros com o taitiano das cativas polinésias.
- RAPA NUI | Esta é a língua tradicional da Ilha da Páscoa. No século xix foi descoberta uma escrita denominada rongorongo que, em princípio, serviria para representar o rapa nui. O problema é que ninguém tem a certeza nem consegue decifrar estes intrigantes caracteres dançantes.
- QUÍCHUA | Na terra onde nasci, ouviu-se esta língua da boca dos incas resgatados do navio espanhol San Pedro de Alcantara, que naufragou na costa de Peniche em 1786. Entre eles estava Fernando, filho de Túpac Amaru II.
- TUPI | O tupi não só foi a base da língua geral brasílica, falada durante algum tempo no Brasil, como deu ao português palavras como «amendoim», «ananás», «jacaré», «jaguar», «mandioca»…
- QUIMBUNDO | As línguas bantu, entre as quais se encontram várias línguas de Angola, dividem os nomes em classes assinaladas no início das palavras. Estas classes funcionam como o género nas línguas indo-europeias, com a diferença de que há mais de 10 classes de nomes nas línguas bantu…
- SUAÍLI | Esta língua bantu é uma língua franca falada por muitos milhões de pessoas no Leste de África. Nesta língua, meia-noite diz-se (literalmente) «seis da noite». A primeira hora do dia são as nossas seis da manhã… Todos conhecemos uma expressão em suaíli: «hakuna matata».
- COPTA | A língua do Egipto Antigo sobreviveu até ao século xvii, com o nome de copta e com os hieróglifos já esquecidos. Hoje, é usada em liturgias da Igreja Copta e há um movimento para revitalizá-la. U ma bela palavra do egípcio antigo que importámos, através do grego, é «oásis».
- ÁRABE | A língua árabe, na oralidade, está dividida em diferentes «dialectos» que são já verdadeiras línguas bem demarcadas umas das outras. Na escrita e nas situações formais, o árabe padrão mantém a unidade. Um pouco como se hoje falássemos em português, mas escrevêssemos em latim.
- MALTÊS | O maltês, língua oficial da União Europeia, é uma língua semítica, com origem no árabe que se falava na Sicília. Em árabe, «livro» é «kitāb» e, no plural, «kutub». Em maltês, «livro» é «ktieb» e, no plural, «kotba».[3]
- LLANITO | Em Gibraltar, ouve-se o llanito, uma língua de contacto entre o castelhano, o inglês e outras línguas. A fronteira de Gibraltar é chamada «focona», de «four corners». O llanito é usado em alguns programas da televisão de Gibraltar.
- MIRANDÊS | Chegámos de novo a Portugal, onde encontramos, para lá do português, mais duas línguas com reconhecimento oficial: o mirandês e a língua gestual portuguesa. Em mirandês, Portugal é «Pertual».
Esta foi uma viagem pelas línguas naturais do mundo — uma curtíssima viagem. Se quiser conhecer mais a fundo as várias línguas, recomendo o livro Languages of the World, de Asya Pereltsvaig. A nossa espécie não só fala milhares de línguas, como ainda se entretém a inventar novas. Não falo apenas do famoso esperanto. Há quem crie línguas por questões artísticas (para filmes ou séries) ou mesmo por desporto… Um bom livro sobre o tema foi escrito pelo criador das línguas da série Guerra dos Tronos, David J. Peterson, e tem como título The Art of Language Invention. O livro é também uma excelente introdução à linguística humana, em geral.
(O mapa que ilustra o texto foi criado por Nuno Costa para o livro História do Português desde o Big Bang.)
[1] Esta viagem não inclui todas as línguas. Há mais variantes normalmente estudadas como língua na península − o asturo-leonês e o aragonês, por exemplo.
[2] «Uma língua nunca é suficiente!»
[3] O inglês e o árabe são línguas muito distantes. Mas reparemos como se fazia o plural de «book» em inglês antigo: «bēċ». O singular era «bōc». Ou seja, o plural também era marcado por mudanças de vogais no meio da palavra, tal como no árabe. Hoje em dia, a palavra «book» passa, no plural, a «books» – mas há outras palavras em que os ingleses ainda têm destes plurais. Por exemplo, «goose» passa a «geese» e «foot» a «feet». São destroços gramaticais de fases anteriores da língua.
Como sempre é um prazer ouvir, ou melhor, ler os seus textos. Gostaria de fazer alguns comentários.
1) A nossa língua geral, proibida por Pombal (Graças a Deus e a Pombal), era uma mistura de português com o tupi-guarany e foi falada de São Paulo para baixo até o século XVIII. Não fosse o Pombal, teríamos certamente uma língua crioula em São Paulo. Há resquícios desta língua no sotaque do paulista do interior. São incapazes de falar coisas como “porta” e “volta” sem misturar o “r” com o “l” e sai algo como porlta e vorlta. É o nosso sotaque caipira.
2) A língua indígena nós a chamamos mais de tupi-guarany ou só guarany. Não usamos a denominação tupi. E era falada do Paraguay até o nordeste por diferentes tribos por causa de uma migração causada por razões religiosas a partir do ano 1.000. É hoje língua oficial do Paraguay.
3) Os resquícios do guarany no portugûes chamam a atenção, pois são nomes descritivos. Veja o nome de nossas frutas nativas. Um exemplo, a deliciosa jaboticaba (se fosse o fruto proibido bíblico, Adão não esperaria Eva para prová-lo) significa algo como “frutinha preta que dá colado na árvore”.
4) Merece um estudo à parte, a influência das línguas africanas no Brasil. As gírias são quase todas de origem africana. Um excepcional exemplo é o carro de transporte de preso, aqui por todos conhecido como “camburão”, uma palavra com raizes em Africa. Só que o significado original era “vaso para carregar fezes”, usado no tempo da escravidão. Veja a metáfora cruel. Camburão passou de algo similar a um urinol para carro de transportar presos.
Abraços,
Caro Maurício,
Muito obrigado por todos os interessantes comentários!
Um abraço!
Senhor Neves. Eu também gostaria de fazer algum comentário e colocar uma questão.
1- A língua própria da Escócia e o Gaélico que e uma língua goidélica. Eu tinha entendido que o “scots” é um dialeto do inglês falada na Escócia.
2- Acho confuso o fato de as fronteiras política. Isso leva a identificar fronteira política com fronteira linguistica. Não teria sido melhor apresentar também as fronteiras linguisticas?
Obrigado
Boa tarde!
Em relação ao primeiro, hoje em dia é mais comum considerar o scots como uma língua separada, do grupo ânglico. No fundo, a Escócia tem três línguas. Tratei o assunto num dos primeiros artigos deste website: https://certaspalavras.pt/linguas-da-escocia/ Convido-o a ler. Muito obrigado!
Em relação às fronteiras, concordo que seria mais interessante, mas a verdade é que não é fácil definir fronteiras linguísticas. Acabámos por usar um mapa mais habitual.
Agradeço muito a sua leitura!
nao gosto de ver basco e catalao e que nao se mencione o galego. pelo demais nengum
problema.un galego. uma aperta.
Caro Manuel, o galego tem um capítulo inteiro no livro de onde este texto foi retirado. Aliás, nesta página é um dos temas de eleição… Espero que compreenda que, neste texto em particular, tenha evitado referi-lo, precisamente por estar sempre a falar do tema… 🙂