Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

O que ouvem os portugueses quando ouvem galego?

Lembro-me de estar a ver televisão com um amigo meu acabadinho de chegar da Andaluzia, onde trabalhara durante uns meses. De repente, não sei porquê, demos connosco a ouvir um galego a falar na televisão.

Disse-lhe (armado em sabichão das línguas) que aquilo era galego e ele começou a rir-se, dizendo que aquilo era, obviamente, espanhol. Para ele, nada do que lhe dizia fazia sentido.

A paisagem linguística da Península Ibérica é feita de proximidades e distâncias e uma variedade que poucos portugueses conhecem. A maioria de nós vê tudo de forma binária: o que se ouve pela Península fora só pode ser português ou espanhol.

É normalíssimo: o que aprendemos na escola não inclui as variedades linguísticas de Espanha e nem todos andámos de ouvido à escuta, interessados em perceber as subtilezas do mundo das línguas.

Quando um português ouve um galego a falar, tenta situar-se: se ouvir vogais abertas e uma certa entoação, vai arrumar a língua na gaveta do espanhol.

A lógica é simples: é algo parecido com o português e soa a espanhol. Logo, é espanhol. Mal sabem que, na realidade, estão a ouvir aquilo que muitos dizem ser (com razões muito válidas) a nossa própria língua, embora com outro nome e outro sabor.

Dito isto, certas pronúncias do galego deixam os portugueses atarantados. São as pronúncias que os galegos considerarão menos urbanas, mas que são, para um português, uma estranha forma da sua própria língua.

De repente, aquilo soa demasiado a português para ser espanhol. Imagino que perante este vídeo (que um leitor deste site deixou por aqui há uns dias), muitos portugueses fiquem surpreendidos com a forma como alguns destes jovens parecem estar a falar português:

Se o meu amigo não conseguia distinguir o galego do espanhol, ainda há uns dias, o meu sogro confessou-me ver, por vezes, a TV Galiza: havia quem falasse português por aquelas bandas.

O galego é essa língua onde nós, portugueses, sentimos a vertigem de não saber se estamos ali ou não. É como um velhinho de 100 anos que olha para uma fotografia de quando era muito novo e já não sabe bem se está a olhar para si próprio ou para um irmão…

Este artigo foi publicado no livro
Doze Segredos da Língua Portuguesa.

RECEBA OS PRÓXIMOS ARTIGOS
Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

Comentar

29 comentários
  • Galego é o que fala a gente do vídeo e é a mesma língua que o português. O galego oficial é um invento político desenhado para nos afastar da nossa língua internacional. Nom recolhe característica dialetal NENHUMA que coincida com o português padrão (nem sesseio, emprega formas léxicas ultraminoritarias e por nom empregaras maioritarias e coincidentes com as tugas (arrombar e nom arrumar por exemplo)) e isso sumado à pressom do castelhano dá em menos galego e mais galeñol. Umha vergonha.

  • O principal problema para o galego, é a influência que leva aplicando a RAG atraves da TVG nos últimos 30 anos. Uma lástima.

  • Eu son galego. O galego e o espanhol son idiomas diferentes.
    A raíz do galego e do portugués atopase no galego-portugués, idioma que se falaba no noroeste da península na época medieval.Cando Portugal se independizou o galego e o portugués evolucionaron cada un polo seu camiño dando lugar ó actual portugués e ó actual galego

    • 1). No existió nunca eso que llamáis “galego-portugués”. Era galego la lengua que se hablaba en el condado de Portucale cuando se independizó. No había una conciencia lingüística ni una diferenciación lo suficientemente grande como para que el portugués fuera considerado como tal en ese momento. Lo que sí ocurrió más tarde es que la norma lisboeta fue adquiriendo poder y, ¡qué curioso! se fue acercando más al castellano (lengua con más poder y estatus), o al francés (de donde sacó algunas cosas como la “ç”) y alejando de su antigua madre. De hecho, los rasgos dialectológicos del norte de Portugal lo confirman.

      2) Por mucho que no os guste la RAG y la TVG, un lengua necesita un proceso de normativización para poder ser enseñada. El castellano también sufrió ese proceso, pero hace un par de siglos, por eso se nos ha olvidado: “limpia, fija y da esplendor”. ¿Qué lengua pretendes que aprendan los neofalantes si no?

      3) Es verdad que los portugueses no reconocen el gallego. También piensan que el mirandés es una “mezcla entre el portugués y el español”, por no decir que les cuesta reconocer el poder del brasileiro y se limitan a criticar su forma de hablar cuando vienen a Portugal.

      4) Los portugueses no parecen conocer el origen de su lengua, ignoran a los gallegos, y los gallegos se piensan que cobijándose en el Portugués sobrevivirían a la minorización. Me apena ver que, al final, el argumento que esgriman es el mismo que el discurso de la RAE con el castellano como lengua internacional, es decir: interés económico, el portugués es lengua internacional, así que hagámonos su amiga.

      No sé, tan sólo soy una lingüista burgalesa que non fala galego (pero que lo entiendo perfectamente), y no voy a decirle a nadie cómo llevar su proceso de desminorización; pero no creo que la solución pase por escribir con doble ss o con ç (cuando la fonética del gallego no lo necesita), si no por más humildad por parte de los portugueses y fomentar la inteligibilidad mútua de todas las lenguas romances de la Península Ibérica. (¡ojo! que como empiece a opinar del castellano y su “panhismanismo” relleno cinco hojas enteras llenas de críticas).

  • El error es confundir en la propia España el español con el castellano. Pero negar la potencia del aprendizaje del castellano en tanto que lengua
    internacional y vehicular para las propias relaciones con vuestros propios emigrantes allende los mares es tan error como no potenciar en las regiones vernáculas la lengua propia.
    Lo que sí me resulta curioso es que a los castellanoparlantes se nos lobotomice para decir A Coruña (en cualquier telediario, o señal de autovía en Castilla) o Sanxenxo y para vosotros lo correcto sea decir Andaluzía. A ver si nos aclaramos y jugamos con las mismas reglas.

    • Curiosamente, em Portugal, é muito comum ouvir dizer “La Coruña”, por estranho que pareça.

      • Por que nos os gusta a los gallegos que se diga La Coruña (A Corunha) y vosotros decís Oporto (Porto),Arxentina (Argentina) etc etc….no podéis pretender que la gente de fuera hable y escriba como vosotros queráis…….dentro de Galicia son ustedes libres de escribir y hablar como les venga en gana y los que no somos gallegos tenemos el mismo derecho……un saludo a Galiza.

    • A. Galiza até o momento, esta inserida no estado espanhol, e este estado tem a obriga de proteger as linguas oficiais por mandato constitucionak e por ter assinado a Declaração Internacional de Protecção das linguas minorizadas e minoritarias. Da mesma forma o estado acaa as leis das autonomias, e isso implica que a todos os níveis a única forma oficial da toponimia galega é a galega. As formas deurpadas e de castelhanização, fram impostas na Galiza durante séculos. Que você diga Londres não fazisso oficial no estado británico, mas o respeto pola forma e cultura original na toponimia leva a que Los Angeles não seja hoje The Angels, ou Las Vegas seja The Meadows. Você pode falar como queira, mas a forma oficial nos toponimos galegos é só uma, a galega.

  • No ano passado passei uma semana a conhecer parte da costa galega (de Finsterra à Coruña). Nas vilas piscatórias fala-se galego a sério. Soa a português com pronúncia do Norte. Às vezes, tinha dificuldade em perceber mas também a tenho em relação à pronúncia mais cerrada de uma aldeia do Minho ou do Nordeste transmontano. As pronúncias sempre me fascinaram. E sim, eu sou dos que sempre andaram de ouvido à escuta, interessados em perceber as subtilezas do mundo das línguas.

      • Eu son desa zona de Fisterra, coñecida tamén como “Costa da Morte”. É certo que aquí hai moitas similitudes fonéticas co portugués nas que reparei nos cursos que fixen desta lingua. Por exemplo , a “a” átona aquí pronúnciase como unha “e”. Ex: María pronúnciase /mería/ ; e o mesmo ocorre coa “e” átona: pequeno /piqueno/.
        Por desgracia, son unha herdeira máis desa dictadura cultural contra o galego. Os meus pais, galegofalantes, ensináronme a falar só o castelán porque cando eles iban a escola só podían falar e escribir esta lingua. Falo galego, pero xamáis poderei falalo con esa sonoridade tan melodiosa e armoniosa coa que a falan eles e, sobre todo, a xente do rural e vilas máis pequenas.

        • Carla Paloma,

          Essa forma de falar “melodiosa e armoniosa” (que romântica me es) da costa da morte é precisamente o galego mais internacional e aberto ao mundo de tod@s (o mais moderno podemos dizer), inteligível em qualquer país de língua portuguesa. Que paradoxo, não?

          A pronuncia galega acastrapada e castelhanizada é que não vale para nada, nem na Galiza (pois para falar assim é melhor falar já diretamente em castelhano) muito menos fora da Galiza em portugal onde se percebe como como puro castelhano.

          • Síntoo, Luís, pero non teño nada q engadir al teu comentario. Ti mesmo deixas en evidencia o teu profundo descoñecemento de Galiza e da lingua galega.

  • Poderia ao menos ter explicado aos leitores que o galego, assim como o castelhano, são línguas espanholas, e que o que agente conhece como espanhol, nada mais é que o castelhano, a língua do Reino de Castela. É sempre bom explicar que na Espanha é falada mais do que uma língua, e que não há tecnicamente língua “espanhola” per se, e sim castelhano.

  • Soy del Este de España. Conozco un poco el portugués (lo estudié algunos meses y a veces escucho la RTP). El gallego lo conozco de oídas. El problema es que el gallego que suele aparecer en la televisión suele ser muy “urbano”, es decir, tiene una entonación tan castellana que parece que sea incluso un dialecto del castellano (muchas veces ni siquiera ponen subtítulos cuando sale un gallego-hablante en la televisión estatal). En cambio, en este vídeo se percibe un gallego más espontáneo y puro, muchos más cercano al portugués. Creo que gallego y portugués continúan siendo la misma lengua a pesar de los avatares históricos, pero tengo la sensación de que la negación de esa unidad lingüística por parte de muchos gallegos y portugueses responde a ese aversión que muchas veces se tienen los vecinos y espantar sospechas de unidad identitaria como pueblo. Creo que reconocer la unidad lingüística no debe suponer necesariamente reconocer una misma identidad. La gente en Estados Unidos habla inglés pero eso no los hace ingleses, o la gente en Argentina reconoce que habla español pero eso no los convierte en españoles. En todo caso, por encima de eso, el mayor problema es que el gallego está muriendo a marchas forzadas y la mayoría de los gallegos están adquiriendo el castellano como lengua materna y de comunicación habitual mientras relegan el idioma de sus abuelos al folclore. Esa cuestión me preocupa más.

  • Que bonito é o Português! Seja ele do Brasil, da Galiza, de Portugal, de Angola, de Moçambique de onde for! Nenhum deles me incomoda, antes me faz sentir orgulhoso. Que cada País que o usa como Língua Oficial siga utilizando-o consoante o seu povo o quiser. No caso do Brasil, até, consoante as suas Regiões, tão vasto ele é. Que bom é ouvir Português vindo de onde vier.

  • Texto exemplar, parabéns caro autor. Pode inclusive acontecer que se formos muitos a tomar esta e posições similares à dum post que eu pus em minha página hoje (28-02-2016), podermos contribuir para o relançar de um maior debate acerca dum certo tique de unicidade linguística que sistemas educativos centralistas privilegiam.

    É útil podermos questioná-los, tal pode conduzir a uma maior democraticidade e riqueza do falar num determinada língua padrão, mas sendo cada região orgulhosa do seu falar específico, com vocábulos muito próprios. Com certeza aí na Califórnia além do português de Portugal aplicam muitas outras palavras que aportuguesaram que só enriquecem idioma

    Quando do tal acordo ortográfico último, com muito desacordo à mistura achei muito interessante a posição de um prestigiado Prof. brasileiro que dizia mais ou menos isto:

    – Em vez de haver tanto enfoque numa ortografia unificada, talvez fosse melhor um bom dicionário de sinónimos e exemplificava:
    “autocarro” português de Portugal; “ónibus” português brasileiro; “muchimbombo” português moçambicano, todos sinónimos e outros exemplos similares que deu.

    Ora eu por exemplo ao português de Portugal permitiria grafia dupla para “Naçom” e “Nação”, e porque não “Febreiro” e “Fevereiro”, “calheiras” e/ou “escadas”, como dizia minha Mãe que eu carinhosamente corrigia à data. Hoje incentivá-la-ia a manter vocabulário. Mas há muitas mais.

    Seria bem interessante começar aqui a elencar vocábulos que o norte português galaico-galécico usava bem próximos do galego oriundo pela romanização da então Gallaecia. Mas o centralismo lusitano, em especial quando a Capital depois de começar em Guimarães, mudou para Coimbra e com tomada de Lisboa aos mouros ficou aqui definitivamente.
    Depois foi-se acentuando o centralismo que nos fez cair em desuso muitos dos nossos vocábulos do nosso Norte e nos foi habituando a outros mais próprios do centro/sul lusitano.

    Sou por um Portugal uno, numa Unidade que respeite a diversidade de suas três históricas regiões:
    a) O Norte galaico-galécico do rio Minho ao Mondego;
    b) O Centro/sul lusitano;
    c) O Algarve (Al Garb) só conquistado aos mouros invasores no reinado de D. Afonso III.

    Ora há muitos centralistas portugueses que querem dizer que Portugal é só uma região. Sou obviamente contra essa unicidade, antes pela UNIDADE que respeite nossa Alma e História mais ancestral.

  • E o seguinte que é: agora ainda vai haver gente que diga que na França só se fala francês e na Itália só se fala italiano…
    Eu penso que a situaçom tampouco é tam má.

  • Anónimo galego, deixe-se de parvoíces, os portugueses não acham nada disso, COMO É ÓBVIO. Os brasileiros falam a LÍNGUA PORTUGUESA, a mais bela do mundo. A língua do país precursor da gloriosa Era dos Descobrimentos, o país a que, em boa parte, se deve a configuração do mundo, tal como o conhecemos hoje em dia.

  • Parece-me que o galego está mais para o português do que para o espanhol. Não só pela história das duas línguas, mas porque, como ensina Darmesteter, um povo pode até mudar a sua sintaxe e o seu vocabulário, mas se os fonemas e os morfemas gramaticais não mudam, a língua permanece a mesma. Em matéria de empréstimos, num verdadeiro vai-e-vém etimológico que ocorre em várias línguas, inclusive entre o português e o galego, entre o português e o espanhol e em outros muitos casos, esse fenômeno linguístico chamado empréstimo, tratado inclusive por L. Bloomfield, podem ser em sua maioria culturais, mas também são, em muitos casos, íntimos. Isso está presente intensamente nas duas línguas irmãs, o português e o galego. Os chamados empréstimos culturais decorrem de relações culturais com outros povos, como mostrei ocorrer nos esportes de massa, entre o português do Brasil e o português de Portugal, nem minha obra FUTEBOL FALADO, RIO, 2010. os empréstimos íntimos são determinados – e não abordei (e aqui lá vai um) este fato no livro citado acima – pela coexistência de dois idiomas num só meio social o que é o caso do contato do galego com o castelhano e com o próprio português., durante longo período.Portanto, uma língua vai se diferencia de outra quando a sua estrutura interna se transforma, lembrando-se do romeno que, internamente não se desestruturou, mantendo o seu caráter de língua românica, mesmo recebendo grande acervo de palavras eslavas. Creio que o galego se aproxima mais do português do que do espanhol. Quanto ao seu artigo, recomendei-o aos amigos amantes da filologia e parabenizo o eminente professor, inclusive pelo formato jornalístico dado ao seu trabalho.

  • É, mais ou menos, o que chamamos, aqui no Brasil, de: “portunhol” (português + espanhol). É o “português brasileiro”, porém falado com um acento espanhol…

  • Está cada vez mais fácil aprender um mandarim, um árabe, um russo para dialogar com as pessoas, do que vencer as batalhas linguísticas regionais com os portugueses. Eu falo em francês, espanhol, italiano, galegos, ingleses, americanos, argentinos etc nas suas respectivas línguas e jamais tive problemas.

Certas Palavras

Arquivo

Blogs do Ano - Nomeado Política, Educação e Economia