Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

O que é que o comboio tem?

O meu sobrinho Dinis perguntou-me no outro dia:

— Tio, também és revisor?

Não sei o que terá ele ouvido para me fazer tal pergunta, mas respondi:

— Sim, sou.

Ele pôs um sorriso tremendo e exclamou:

— Que fixe! Quer dizer que trabalhas nos comboios!

Eu ri-me enquanto a Zélia explicava que tipo de revisor eu era — e, ao mesmo tempo, lembrei-me dos tempos de faculdade, quando me entretinha a dizer a quem quisesse ouvir que, não pudesse eu ser aquilo para que estava a estudar, gostava mesmo muito de ser maquinista (já pica não é coisa que agrade por aí além).

O que será que os comboios têm que nos deixam a imaginação a delirar? Os aviões são interessantes, mas à distância — na prática, são o mais desconfortável dos meios de transporte. Dá jeito chegar depressa, claro, e não deixa de ser barato atravessar milhares de quilómetros por poucos euros, mas não nos deixa a sonhar com a viagem — só com o destino. Já o automóvel é um pouco mais interessante: vemos a paisagem, podemos parar debaixo duma árvore no Sul de França, conhecemos regiões e cidades sem plano, se quisermos.

Mas o comboio… O comboio é material de aventuras, filmes e romances. É material de memórias de juventude. Deixa-nos o coração a bater mais depressa. Será aquele ambiente da estação, o comboio quase a partir e nós a dizermos adeus? Será as noites a atravessar longas paisagens de países exóticos? Será o simples facto de ser o meio de transporte por excelência nas décadas em que o cinema teve a sua explosão popular? Não sei: mas lá que me apetece entrar num comboio e seguir por essa Europa fora — lá isso apetece…

O que é que o comboio tem?

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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