Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

Que aconteceu ao latim e ao grego antigo?

Há poucos dias, recebi uma pergunta de um leitor que me deixou com os dedos a arder de vontade de escrever. A resposta vai levar-nos pelos caminhos da História de línguas como o latim, o grego, o inglês, o árabe — além do português e das suas irmãs…

História de duas línguas

A pergunta do leitor Cezar Jambo[1] foi esta (respeito a ortografia original):

Como explicar o quase esquecimento do latim ou a sua quase total modificação, posto que o latim foi uma língua mundial durante séculos? Por que este fenômeno não ocorreu com outras de menor abrangência, tal como o grego?

A pergunta tem razão de ser: hoje já ninguém afirma ter o latim como língua materna — embora muitos continuem a estudá-lo —, enquanto o grego é língua falada por milhões, na Grécia e em Chipre.

No entanto, se olharmos com atenção para o que aconteceu com as duas línguas, percebemos que o latim nunca chegou a morrer — mudou, sim, e mudou muito. Mas isso também aconteceu ao grego…

Note-se: há muitas línguas que morrem — e morrem numa determinada data. Que data é essa? Diria que é o dia em que morre o último falante — ou, talvez, seja melhor dizer que uma língua morre no dia em que morre o penúltimo falante, pois uma língua que não podemos usar para conversar com outra pessoa já não é bem uma língua.[2]

Não foi o caso do latim. O latim nunca morreu: continuou a ser usado no dia-a-dia, sem interrupção, acabando por se dividir em vários dialectos que, por sua vez, se tornaram a base de línguas com normas e formas escritas particulares.

Já o grego sobreviveu da mesma forma que o latim: foi mudando, transformando-se noutra coisa, como todas as línguas. As diferenças entre o caso do latim e do grego são o facto de o grego não se ter dividido em várias línguas e de darmos o mesmo nome à língua tal como era falada na época clássica e na actualidade. No entanto, as diferenças entre o grego antigo e o grego moderno são comparáveis às diferenças entre o latim e, por exemplo, o português.[3]

Cinco línguas pelos séculos fora

É a comparar que percebemos aquilo que é comum e aquilo que é diferente no que estamos a estudar. Olhemos para o caso do latim e do grego antigo, mas também para o árabe e para o inglês.

Entre o latim e as nossas línguas

O latim estava associado a uma entidade política — o Império Romano — que, a certa altura, desaparece, pelo menos na forma mais reconhecível. A língua — na sua forma popular — continuou a ser falada na rua e a ser usada na escrita. A escrita, melhor ou pior, manteve a gramática e o léxico da época de ouro da literatura latina. Já a língua da rua não ficou parada.

O latim falado mudou ao longo dos séculos, assumindo diferentes formas em diferentes territórios, assumindo a forma de um continuum dialectal: a variação fazia-se gradualmente, sem fronteiras marcadas entre os vários dialectos do latim; todos compreendiam os vizinhos, mas os habitantes dos extremos dificilmente se compreenderiam; por outro lado, acidentes históricos e geográficos criaram fronteiras mais marcadas aqui e ali.

Com o tempo — e falamos de muitos séculos — algumas das novas formas começaram a individualizar-se e vários reinos e condados assumiram-nas como línguas próprias — estes dois processos alimentaram-se mutuamente.

É verdade que as línguas neolatinas são bem diferentes do latim, mas nunca houve um momento em que se pudesse dizer: o latim morreu e nasceu o português, o castelhano, o catalão, o francês, o italiano, o romeno ou outra das línguas latinas. A transformação do latim nas línguas neolatinas foi um processo contínuo — e também um processo complexo, com várias influências de línguas anteriores e línguas vizinhas, entre outros interessantes episódios de um enredo que só conhecemos parcialmente.

Da mesma forma, mesmo durante os séculos em que a língua teve o nome de latim e era parecida com a língua que conhecemos das gramáticas latinas, a sua gramática e o seu léxico nunca estiveram parados. O latim tinha uma norma escrita e oral, mas variava — no espaço e no tempo. O próprio latim já vinha de línguas anteriores, que não morreram: transformaram-se no latim…[4]

Em paralelo à sua transformação nas línguas neolatinas, o latim, na escrita, manteve-se importante em muitos âmbitos — a começar pelo eclesiástico — onde ainda hoje é usado e aprendido. É, de facto, um caso extraordinário de sobrevivência linguística.

Continuamos a ter gramáticas, dicionários e uma imensa literatura em latim — se pensarmos que cada língua é um rio que percorre vales pouco iluminados e florestas obscuras até chegar ao que é hoje, o latim é um pedaço de rio iluminado por mil holofotes. Mas o rio vinha de trás e continuou…

Entre o grego e o inglês

O grego passou pelo mesmo processo, mas sem a divisão em várias normas escritas. O grego clássico nunca deixou de ser estudado, pelo menos como forma de acesso à literatura da Antiguidade, mas o grego das ruas foi mudando, como seria de esperar, com tantos séculos de permeio e tanto que aconteceu, desde a existência por tantos séculos do Império Bizantino à integração dos territórios de língua grega no Império Otomano.

Nos séculos XIX e XX, houve uma tentativa de aproximar a língua da sua versão clássica. Esse grego arcaizante chamava-se katharévussa, foi criado no século XIX e chegou a ser adoptado como língua oficial da Grécia, até que o grego demótico, uma norma baseada no grego actual, foi declarado oficial nos anos 70 do século XX. As lutas entre as duas versões do grego foram terríveis. Chegou a haver mortos — e ainda hoje há quem lamente que o katharévussa já não seja oficial.[5]

Outro caso semelhante, mas sem grandes lutas nem mártires linguísticos que se conheçam, é o do inglês: o inglês antigo é muito diferente do inglês actual, tão diferente (ou mais) do que o latim e o português. No entanto, o inglês, tal como o grego, não se dividiu.

Ou será que, afinal, se dividiu? Se quisermos encontrar um paralelo com o latim, podemos dizer que o inglês padrão e o scots, na Escócia, são duas línguas neo-inglesas, pois ambas nasceram do inglês antigo e ambas têm uma tradição literária e escrita própria…

Uma língua árabe — ou várias línguas árabes?

O árabe é um caso curioso que junta o processo do latim e do grego. O árabe moderno padrão, ensinado nas escolas nos países árabes, é uma espécie de katharévussa: uma versão arcaizante, conscientemente próxima do árabe clássico.

O prestígio do árabe moderno padrão é tão grande que, mesmo entre os falantes, nem sempre há consciência da distância que separa este padrão do árabe realmente falado nas ruas. É possível ouvir alguns falantes árabes dizer que o árabe, ao contrário de outras línguas, não mudou ao longo dos séculos, mantendo-se mais puro que outras línguas.

Ora, se na escrita e nas situações formais o árabe é uma língua única, na oralidade do dia-a-dia aproxima-se do latim: um marroquino, a falar na língua que fala em casa, perceberá bem um argelino, mas já terá muitas dificuldades em compreender um falante do árabe popular de Omã, por exemplo — tantas como um português terá em compreender um romeno, por exemplo. Note-se que, ao contrário do caso do português e do romeno, os árabes aprendem uma língua comum na escola e, por isso, perante um falante de um árabe muito distante, usam o árabe moderno padrão, língua que raramente falam em casa.

Tudo isto acontece de forma natural, por vezes sem consciência de haver uma mudança entre o árabe particular da sua terra e o árabe padrão. Esta coexistência de duas línguas num mesmo território que são usadas em diferentes situações chama-se, tecnicamente, diglossia. É o que também acontece, por exemplo, na Suíça alemã, onde o alemão suíço é usado no dia-a-dia, mas o alemão padrão é usado na escrita e nas situações formais, havendo entre ambos uma distância considerável.[6]

As gramáticas dos vários árabes — alguns chamar-lhes-ão dialectos, enquanto outros não terão pejo em usar o termo «línguas» — são já muito distintas, havendo um certo continuum dialectal, mas também algumas formas com individualidade, o que nos permite falar do árabe marroquino, do árabe egípcio e por aí fora. Qualquer um destes árabes podia dar origem a um novo padrão, com outro nome, tal como o latim popular do noroeste da Península Ibérica deu origem à nossa língua.

Aliás, a forma do árabe falada numa ilha do Mediterrâneo, com fortes influências italianas, ganhou uma norma e um nome: falo do maltês, uma das línguas oficiais da União Europeia (para sermos mais precisos, o maltês descende do árabe da Sicília — uma observação que serve para aguçar o apetite para a História do árabe no Mediterrâneo).

As línguas antigas eram mais perfeitas?

O árabe moderno padrão, que une todos os países de língua árabe, permite a comunicação entre falantes de línguas orais muito distintas. A sua ligação tradicional ao árabe clássico dá-lhe uma aura sagrada — neste caso, literalmente sagrada, pois o árabe clássico é a língua em que está escrito o Alcorão. Perante a tradição religiosa e literária associada à língua escrita, é natural que muitos falantes olhem para as línguas orais, realmente faladas no dia-a-dia, como deturpações imperfeitas da língua árabe perfeita que encontram na escrita. Ou seja, caem na tentação de associar a riqueza literária e cultural de determinada forma linguística às suas características intrínsecas, como se a gramática do árabe clássico — e do árabe padrão, por associação — fosse mais perfeita que as das línguas mais recentes.

Também nós, falantes das línguas latinas, caímos nesta tentação. Quando olhamos para o latim e para o grego antigo temos, por vezes, a sensação de serem duas línguas intrinsecamente especiais, ou seja, gramaticalmente mais perfeitas e belas do que tudo o que veio antes e tudo o que se seguiu. Esta sensação estará associada ao facto de termos acesso a esses períodos da história das línguas apenas e só através da escrita — parecem-nos línguas mais buriladas, mais contidas, menos sujeitas aos erros e às malfeitorias que vemos à nossa volta. Mas teríamos a mesma sensação perante qualquer língua se dela restasse apenas a literatura e se essa literatura tivesse a importância que as obras em latim e em grego antigo têm para nós, com milénios de leituras, comentários e estudo em cima. Note-se que estou longe de desvalorizar o latim e o grego antigo — digo mesmo: antes pelo contrário! O que digo é apenas isto: a importância destas línguas não tem que ver com as características gramaticais das mesmas, mas antes com a beleza e o peso do que fizemos com elas.[7]

Não digo que não haja uns quantos pormenores gramaticais deslumbrantes. Por exemplo, tanto o latim como o grego têm casos, que nos parecem uma maneira particularmente espartana de construir as frases. Para nós, falantes de línguas mais analíticas, o latim e o grego oferecem-nos uma desafiante matemática sintáctica. Confesso: também a mim os casos me intrigam — mas, numa óptica estritamente linguística, o latim e o grego antigo não são, neste ponto, especiais. Os casos existem em muitos idiomas — e há línguas, como o basco, com um maior número de casos.

Da mesma forma, também devemos evitar cair na tentação de considerar os significados das palavras em latim e em grego como mais genuínos do que os significados que as mesmas palavras — ou outras por elas — assumiram depois, na passagem para as línguas latinas da actualidade. Os linguistas têm mesmo um nome para esta sensação de que esses significados eram, de alguma forma, melhores do que os nossos novos significados: estamos perante a falácia etimológica, a crença de que o significado verdadeiro das palavras está nas formas mais antigas.

Temos de admitir: é difícil resistir à tentação de ver os significados mais recentes como deturpações — mas lembremo-nos de que, no latim como em todas as línguas, muitas palavras provêm de formas mais antigas, com alterações mais ou menos radicais de significado. Afinal, até a palavra latina para «filho» veio da palavra para «sugador» no proto-indo-europeu…[8] Digamos que, a avaliar pela amostra do que aconteceu entre o indo-europeu e o latim, até fomos meiguinhos com o que fizemos às palavras dos Romanos…

(Uma pequena adenda, na sequência de um comentário ao artigo: o que digo acima é uma forma de sublinhar a importância do latim — uma importância que nem sempre é reconhecida. Não só a língua nos dá acesso a uma literatura e a uma cultura que são bases da nossa cultura — e o mesmo se poderá dizer do grego, de forma diferente —, como, linguisticamente, constitui uma fase fulcral do desenvolvimento da língua, que está disponível na escrita, permitindo-nos compreender a história de muitas das palavras e dos conceitos que hoje usamos. O próprio reconhecimento das mudanças de forma e de significado de algumas palavras do latim até hoje só é possível se conhecermos a língua. Em suma: este texto é uma homenagem ao latim, o nome de uma fase riquíssima da nossa língua!)

A mudança nunca pára?

Será possível manter uma língua parada durante séculos? Se uma língua for convenientemente ensinada nas escolas, será possível cristalizá-la numa forma estável, tanto na escrita como na oralidade? A mesma pergunta de outra maneira: seria possível que falássemos ainda hoje latim, se o Império Romano tivesse sobrevivido (e tivesse boas escolas)?

A resposta só pode ser não. A gramática da nossa língua materna, por mais arrumações e acertos que se façam, não é aprendida, nos seus aspectos fundamentais, na escola — na escola aprendem-se os registos mais formais e a escrita. Mesmo imaginando um sistema escolar perfeito, onde toda a população aprenderia a escrever sem escolhos, seria praticamente impossível travar a mudança linguística.

A questão tem fundamentos biológicos. Não somos robots a aprender regras simples e explícitas. Os nossos cérebros reconstroem a língua, nos primeiros anos, e fazem-no de forma que só nos pode espantar. Mas há sempre pequenas imperfeições nessa reconstrução. Depois, como cada pessoa é diferente, no cérebro, na forma da garganta e da boca, e nas experiências por que passa e nas palavras que diz, cada falante é exposto a materiais ligeiramente diferentes. Por outro lado, o sistema linguístico é muito mais complexo do que pensamos. Há variação regional, social, situacional, temporal — esta variação faz parte das características que encontramos em todas as línguas do mundo. Não há língua, por exemplo, que não mude de acordo com o grau de formalidade da situação. Esta variação nunca é absolutamente estável, havendo sempre intromissões de formas de diferentes regiões, classes ou situações umas nas outras, como sintoma de uma sociedade a funcionar, nas interacções sempre imprevisíveis de todos os seus elementos. A variedade linguística numa sociedade dinâmica implica que as diferentes formas existentes numa língua variam, ao longo do tempo, na frequência de uso e no prestígio social, sendo este um dos motores da mudança linguística. (Há também muito de aleatório nos processos de mudança, um facto que arrelia muitos, mas é inegável e uma das constantes da linguagem humana.) [9]

Note-se que a mudança linguística não opera sempre à mesma velocidade, embora seja difícil perceber quando acelera ou desacelera —  a norma e a escrita escondem, por vezes, as mudanças e é difícil quantificar e medir este tipo de processos. O certo é que as línguas passam por períodos de mudança mais rápida. Por exemplo, quando há uma quebra na transmissão entre gerações e as crianças têm de reinventar grandes partes da gramática (um processo chamado de crioulização); ou quando muitos adultos aprendem uma língua, já longe da idade em que o processo de aprendizagem é mais natural, martelando a gramática e levando-a a uma certa simplificação e limpeza. Foi o que aconteceu com grandes línguas imperiais, como o inglês e o persa.[10] Depois, há momentos em que a norma escrita deixa de ter o prestígio que tinha e a língua sente-se mais livre — foi o que aconteceu também com o inglês durante os tempos de prestígio do francês normando como língua da corte. A influência de outras línguas também pressiona uma língua de forma mais ou menos marcada em determinados períodos da História.

Tudo isto para dizer: mesmo que o Império Romano não tivesse acabado, o latim que hoje falaríamos seria muito diferente do latim clássico — tal como o árabe de hoje não é a língua do tempo de Maomé, nem o grego moderno é o grego de Péricles. O Império acabou, é verdade. Apesar disso, a sua língua continuou nos lábios dos falantes. Longe de morrer, fez o que fazem todas as línguas vivas: mudou ao longo dos séculos, até chegar — já com outros nomes — às nossas bocas.

Notas e referências

[1] A pergunta foi feita como comentário ao artigo «Pequena História das Línguas».

[2] Há alguns meses, referi o caso do dálmata, uma língua latina que foi falada, durante séculos, nas costas do Adriático e que desapareceu no século XIX, neste artigo: «O que perdemos quando morre uma língua?» (Fevereiro de 2018).

[3] O grego antigo não é homogéneo, claro está. Variava no espaço — e variava no tempo. O grego clássico de Péricles é diferente do grego do Novo Testamento — este último é denominado grego koiné e serviu como espécie de lingua franca no Mediterrâneo oriental.

[4] Sobre o funcionamento do latim, mas também sobre a sua História, temos a recente Nova Gramática do Latim (Quetzal, 2019), de Frederico Lourenço, mais do que aconselhável.

[5] Podemos encontrar um tratamento académico da questão no artigo de Theodossia Pavlidou, “Linguistic nationalism and European unity: The case of Greece.”, incluído no livro A Language Policy for the European Community: Prospects and Quandaries (Mouton de Gruyter, 1991), editado por Florian Coulmas.

[6] O artigo da Wikipédia inglesa sobre a situação linguística suíça é um bom resumo: «Languages of Switzerland». O artigo explica que o latim é usado, por vezes, para dar nome a instituições comuns. Mesmo o domínio de topo para as páginas suíças usa a sigla latina para o nome do país: Confoederatio Helvetica — nome que também aparece nas moedas. Há um artigo neste blogue sobre a situação na Suíça: «A boa loucura linguística da Suíça» (Outubro de 2017).

[7] Quando temos algum tipo de investimento emocional numa língua — ou por ser a nossa língua materna ou por ser uma língua que aprendemos com gosto —, é habitual considerarmos essa língua mais bela que as outras. Desta ilusão não vem mal ao mundo, excepto quando a confundimos com dados objectivos. Ao longo da história, a ilusão de superioridade intrínseca de determinada língua levou muitos a considerar o francês como uma língua especialmente lógica, o alemão como mais adequado para a filosofia (por ser preciso), o inglês como uma língua lógica (a tecla da lógica é batida muitas vezes), o italiano como a mais bela das línguas e por aí fora. Mesmo noutras tradições, estas ilusões aparecem com facilidade, como descreve Gaston Dorren, no seu livro Babel: Around The World In Twenty Languages (Profile, 2018), no que toca ao tâmil. Da mesma forma, tendemos a considerar a nossa forma particular de falar a nossa língua como a mais perfeita, tentação praticamente irresistível se a forma que nos calhou em sorte estiver próxima da língua-padrão. Esta ilusão (entre outras) é bem desmontada no livro Language Myths (Penguin, 2000), escrito por vários linguistas profissionais e editado por Peter Trudgill e Laurie Bauer.

[8] Descrevi esta transformação da palavra «filho» no artigo «O que se esconde na palavra “filho”?». Há vários livros sobre o indo-europeu. Um volume que uso, por vezes, é Indo-European Language and Culture: An Introduction (John Wiley & Sons, 2011), de Benjamin W. Fortson IV.

[9] Os processos biológicos por trás da mudança linguística são explicados, entre muitos outros livros e artigos, no livro Words on the Move (Henry Holt & Company, 2016), de John McWhorter.

[10] A descrição do processo de simplificação está no livro What Language Is (Avery Publishing Group, 2012), de John McWhorter.

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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11 comentários
  • Belíssimo artigo! Muito abrangente, técnico – ao mesmo tempo que de fácil compreensão – e instrutivo! Parabéns ao autor por brindar-nos com um texto desta envergadura. 😉 🙂
    Só lamento não encontrar seus livros aqui no Brasil… 🙁

  • Boa tarde,

    Parabéns pelo artigo e sobretudo pela pertinência do assunto como aliás de tantos outros que tenho acompanhado.
    A questão do Latim, vou centrar-me nesta língua, é um pouco mais complexa. O Latim é a língua-mãe do Português e de tantas outras, mas é a língua de uma literatura ímpar que está a cair no esquecimento.
    Como deverá saber, na atualidade, são raros os alunos que o estudam. O sistema de ensino português deixou-o ao abandono. O Latim quase saiu do currículo, as escolas optam por outras ofertas formativas e o país assiste a tudo isto quase sem reagir. Os poucos professores que defendem a sua revitalização são obrigados a um esforço de justificarem a sua aprendizagem.
    O Latim explica etimologias, processos fonológicos, construções sintáticas, enfim um inúmero leque de conceitos que estamos a deixar morrer.
    Alguém se lembraria de retirar a História? Alguém se lembraria de cursar Engenharia sem ter estudado Matemática? São exemplos extremos, bem sei, mas estamos a formar professores de línguas e de história, magistrados, bibliotecários, arqueólogos, etc., sem lhes ensinarmos uma base fundamental.
    Obrigada pela oportunidade de lhe responder.
    Estou disponível para aprofundarmos o assunto.
    Respeitosos cumprimentos,
    Fátima Ferreira

    • Muito obrigado pelo comentário! Concordo com tudo o que me diz, que não me parece contradizer o artigo. O latim é essencial para compreender a História da nossa língua, como muito bem diz, e dá-nos acesso a essa literatura de qualidade inquestionável que refere no comentário e que também referi no artigo. Agradeço a atenção e continuaremos a conversar. Os meus melhores cumprimentos

    • Na sequência do seu comentário, escrevi uma pequena adenda ao texto, que repito aqui: «Uma pequena adenda, na sequência de um comentário ao artigo: o que digo acima é uma forma de sublinhar a importância do latim — uma importância que nem sempre é reconhecida. Não só a língua nos dá acesso a uma literatura e a uma cultura que são bases da nossa cultura — e o mesmo se poderá dizer do grego, de forma diferente —, como, linguisticamente, constitui uma fase fulcral do desenvolvimento da língua, que está disponível na escrita, permitindo-nos compreender a história de muitas das palavras e dos conceitos que hoje usamos. O próprio reconhecimento das mudanças de forma e de significado de algumas palavras do latim até hoje só é possível se conhecermos a língua. Em suma: este texto é uma homenagem ao latim, o nome de uma fase riquíssima da nossa língua!»

  • Simplesmente fantástico professor ! MUITO OBRIGADO ! A muitos anos eu tinha essa curiosidade finalmente esclarecida.Também sinto falta dos seus livros aqui no Brasil. Mais uma vez, muito obrigado.

  • Se o Imperium romanum nom se tivesse acabado, é claro que o latim também sofreria mudanças; mais nom tanto como na realidade. Digamos que as línguas romances estariam máis próximas do latim ca na nossa realidade.

  • Muito interessante, como sempre, o artigo. Quando vejo que publicas algo novo sempre venho para ler 🙂

    Estava a pensar no paralelismo entre o árabe e o latim, ou como o grego do século XIX tentou voltar à norma clássica.

    Em realidade esta ideia da língua imutável e perfeita que não deve por nada mudar, o que tenho ouvido que se chama “prescriptivismo” teria o seu grau máximo neste árabe clássico que ainda hoje é norma, que foi igual no império romano. Até tal ponto chegaram os latinos na negação da evolução que disque os únicos escritos em “latin vulgar” (o verdadeiro pai das línguas neolatinas) são em geral exemplos de “mal falar” recolhidos polos escritores latinos. Tipo: “o povo fala usando preposições e não os casos: o povo é burro!”

    Mas o prescriptivismo também está no falante de português que critica como deturpação da língua a maneira de colocar os pronomes dos brasileiros, ou dizer “auga” ou “ũa”, que para nós os galegos poderia ser bem a norma e o demais estar mal falado… Ou do espanhol que critica regionalismos, “vulgarismos” (o próprio conceito de vulgarismo acho que nasceu no prescriptivismo), ou a maneira de falar dos cantores de reggaetón.

    O prescriptivismo é também a ideia detrás dos “nazi grammar”, que eu confeso ter sido nalguma escura época mais recente do que gostaria.

    Total, como dizia o meu sogro “médio mundo ri-se do outro médio”.

    Em fim, no caso dum império latino que hoje ainda existisse, cuido que chegado certo momento elaboraria uma reforma adoptando preposições, mas hoje falaríamos línguas neolatinas achando serem dialectos do bom latin da Toscana, que eles sim, falam como cumpre falar.

  • Mais um artigo excelente, caro Marcos. Você já escreveu algo sobre o mito de que a língua portuguesa teria mudado mais em Portugal do que no Brasil? Acho que seria um tema interessantíssimo a ser tratado. Saudações do outro lado do oceano.

  • Na verdade, o Grego não se afastou tanto como afastaram as línguas neolatinas do Latim. Para além de um enorme léxico comum com a língua antiga, Grego Moderno continua a dispor, por exemplo, de 3 géneros, sistema de declinações e uma voz médio-passiva estruturalmente semelhante ao grego antigo, coisa que nenhuma das línguas neolatinas ocidentais reteve. Aprender Latim não é indispensável, mas é verdadeiramente estruturante para uma real compreensão do Português (e das outras línguas latinas).

    • Não digo que a distância seja a mesma, até porque é difícil medir distâncias. O que queria sublinhar é que nenhuma das línguas, verdadeiramente, desapareceu.

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